O espelho de Narciso

quarta-feira, 3 de maio de 2006

Viver... viajar!

“... os lugares onde vivemos são impermeáveis aos sonhos, [...] não há nada mais disparatarado do que a rua e o número onde recebemos o correio, o quarto onde nos levantamos todos os dias e o espelho quotidiano da casa de banho, o mesmo que nos devolve essa cara fatigada que já não nos convence, que nos faz sentir pena e que, desgraçadamente, é a única que jamais nos atraiçoa. [...] A felicidade está sempre na viagem que se segue. Ou melhor: nesse belo país aonde nunca fomos.”
Santiago Gamboa, Tragédia do homem que amava nos aeroportos, in Contos Apátridas

Apropriadamente, travei conhecimento com este trecho na maravilhosa viagem ao México, em páginas marcadas com um bilhete de avião. Enrolada na linha de pensamento de alguém cuja mais frequente expressão foi “Era capaz de viver aqui”, fez-me todo o sentido e deu-me vontade de partilhar. Porque também eu sinto um pouco que a maravilha do desconhecido é que nos faz acelerar o coração e quebrar a rotina dos dias sempre iguais. Talvez esses países maravilhosos e que nos ficam na recordação apenas o sejam porque não são a nossa casa. E talvez devam permanecer sempre assim, apenas um país que se visita e que, por isso, nunca perde esse encanto e essa mística em que o envolvemos.