O espelho de Narciso

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Teorias sobre... procrastinação

Procrastinação. Essa bela palavra que qualquer aluno de Psicologia tem na ponta da língua, e muitos também no resto do corpo. Falo, para aqueles que nunca tropeçaram nesta palavra anteriormente, desse fenómeno de adiar sempre a tarefa em mãos, primeiro porque está a dar a nossa série preferida na televisão, depois porque nos lembramos que temos de comprar uma coisa urgente e, finalmente, depois de fazer tudo, absolutamente tudo o que se pode fazer e imaginar fazer, olhar para as horas e, como já é tarde e o cansaço já se faz sentir, pensar “vou dormir, faço amanhã”. E, no dia seguinte, começa tudo de novo...
Claro que muitos se identificam em maior ou menor grau com este padrão tão típico do estudante. E quase todos lhe chamariam preguicite aguda sem pensar duas vezes... Mas talvez o motor da procrastinação não seja assim tão pernicioso. Aliás, há poucos dias foi-me apresentada uma teoria bastante interessante sobre as possíveis causas de tal fenómeno e confesso-vos que tenho vindo a comprová-la desde aí. Perante uma troca de ideias, a Dra. Alexandra (do módulo de Prevenção e Gestão de Stress, que frequento, do Programa de Promoção da Adaptação e Prevenção do Risco no Ensino Superior desenvolvido pela minha Faculdade) confrontou-nos com o paralelismo que pode haver entre perfeccionismo e procrastinação. Parece-vos estranho? A mim também me pareceu! Mas até faz sentido, se pensarmos no receio de falhar ou não conseguir realizar a tarefa que temos em mãos com o rigor e a qualidade a que nos propomos como uma das causas da procrastinação.
Olhando para mim, perfeccionista convicta e procrastinadora assumida, tenho vindo a tomar consciência da pontaria desta teoria. Às vezes é a pura preguiça que me move mas sinto que, de facto, é nas tarefas mais duras, trabalhosas e desafiadoras que evito continuamente o momento crucial de me lançar ao trabalho. Depois de arregaçar as mangas e me enfronhar no material, já não parece difícil encontrar motivação e vontade de fazer; o pior é arranjar a energia necessária para combater a procrastinação, esse adiamento contínuo que, vejo agora claramente, só pretende evitar a sensação de incapacidade e fracasso.
E, no meio de toda esta teoria, o actual trabalho de motivação e o trabalho passado sobre auto-eficácia, retiro uma conclusão – e um ensinamento – muito importante: as nossas crenças são factores de influência muito fortes do nosso comportamento! É pela forma como vemos e avaliamos as nossas capacidades que encontramos motivação e sentimentos de sucesso e somos impelidos à realização; de contrário, é a procrastinação que toma conta de nós.
E eu, que me passeio pelos meandros da psicologia, volto ao meu trabalho... depois deste momento de procrastinação!