O espelho de Narciso

domingo, 15 de maio de 2005

Lagoa do Silêncio

O silêncio está à beira da extinção. O silêncio que nos permita meditar. E sentir. E contemplar, com espanto ou com surpresa. O silêncio que nos permita sentir a presença de alguém, juntinho a nós, e que, mesmo entre o burburinho dos gestos, nos escute, sem falarmos.
Não sei se do silêncio não se chega mais depressa à beleza. Sinto que sim. Mas acho que não chega estar vivo para se ser feliz. (Precisamos de ser imaginados, com encantamento, por alguém. [...] Alguém que nos permita meditar, que nos aconchegue ao mundo, discretamente, que – entre o burburinho dos gestos – nos escute, mesmo sem falarmos e, de surpresa, se transforme na nossa lagoa do silêncio.)
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Eduardo Sá, in Notícias Magazine, 15 de Maio de 2005