O espelho de Narciso

quarta-feira, 9 de março de 2005

Sou um livro...

Sou um livro. Um livro de mim mesma. No meu corpo estão as marcas do meu passado, nos meus gestos está a expressão do meu ser. Cada momento marcante está inscrito na minha pele e vincado nas minhas rugas de expressão. Sou um livro aberto para quem quiser ler.
Cada um de nós é um livro! Todos trazemos no corpo a nossa história, livre de correntes e subterfúgios. Para além das palavras e das máscaras sociais, o nosso corpo é um hino à vida, a nossa vida. E ela está lá, nos gestos, nas posturas, nos olhares, para se dar a conhecer ao mundo.
Porque deixámos nós essa forma de comunicação tão preciosa de lado? Rendemo-nos às palavras traiçoeiras, orgulhosos no nosso estatuto superior de espécie com capacidade de se exprimir por símbolos linguísticos, sem nos apercebermos que daí surge toda a falsidade e engano que o ser humano pode ter. Porque as palavras são plásticas, maleáveis, mentirosas. Mas os gestos não! Podemos aprender a modular o tom de voz, os gestos, as expressões mas no final somos sempre vencidos pela expressão pura e inata do gesto. No final, somos todos livros abertos esperando que as máscaras caiam e permitam que os olhos dos outros compreendam as runas inscritas em nós. No final, somos só nós, contando a nossa história ao mundo...