O espelho de Narciso

quarta-feira, 13 de julho de 2005

Aquele café tão familiar...

Era uma tarde de calor e ela, andando sem rumo pelas ruas da cidade, lembrou-se daquele café tão seu conhecido. Caminhou até lá, sentou-se e pegou na lista apenas por ritual: invariavelmente pedia a mesma coisa. Enquanto esperava, recostou-se e olhou em volta, amaldiçoando o facto de se ter esquecido de pôr na mala algo onde pudesse escrever. Deixou o olhar e o pensamento passear-se por aquelas quatro paredes e recordou cada momento ali passado, aqui as infindáveis conversas, ali as reuniões saudosas de amigos, além as noites de risota… Entreteve-se a bebericar a sua bebida, enquanto vagueava pela memória. Andava perdida nesse mar de recordações…
Um instante depois, levantou os olhos e viu-o. Ali estava ele, parado à porta daquele café de que tanto gostava. Dessa vez não esperava por ele, dessa vez foi com surpresa que o viu avançar para si. Percorreu-lhe a memória, no instante dos seus breves passos até à sua mesa, todos os momentos que haviam passado juntos ali. Doeu-lhe na saudade… E sorriu, radiante. Piscou os olhos para que uma lágrima teimosa não rolasse pelo rosto e, quando os abriu, uma fracção de segundo depois, ele já não estava ali, avançando para ela. Tinha estado apenas na sua imaginação.
Mas, afinal, se tivesse estado ali não seria assim tão estranho, porque aquele era o seu café… Tão dele como dela, o lugar que primeiro viria à memória num momento de deambulação, onde primeiro se poderiam encontrar. Nesse dia, porém, seria só dela… dela e das suas recordações!