O espelho de Narciso

segunda-feira, 13 de junho de 2005

O pó das recordações

Fragmentos de uma vida passada desfilam no meu pensamento... Inesperadamente, sem serem convidados, sem pedirem sequer licença para entrar... Entram por mim adentro, como uma rabanada de vento que abre subitamente uma janela encostada. E, tal como uma rabanada de vento, deixam pelo chão um mundo revolto de recordações... Sons, cheiros e imagens levam-me pelos meandros da memória, pelos caminhos que percorri uma vez para nunca mais esquecer e voltar depois, repisando os meus passos... uma vez... e outra... e outra... até a poeira que levanto em cada passo arder nos olhos e na garganta e as lágrimas escorrerem pela minha face. Sufoco, querendo sacudir do corpo a poeira e todos esses fragmentos... Mas eles colam-se à pele, ao coração, à alma, soterram-me e eu não compreendo... Não compreendo o que os trouxe nem o que os deixa ficar. E não compreendo porque olho e vejo esta luta tão distante, como se fosse também só um fragmento de mim que lutasse, enquanto assisto de longe... Não compreendo que caminhos são estes, que pés são estes que caminham, que recordações me empurram ou me chamam... Não compreendo sequer este fragmento de mim! E sufoco...

1 Comments:

  • Estranho, como me revejo no que escreves... Uma pessoa tão diferente de mim! E estranho como me revejo no teu estilo de escrita, pleno de sensações aliadas a emoções. Mas giro ver como, apesar das diferenças evidentes entre nós, somos capazes de sentir tão parecido. E como em tantas alturas sufoco como tu, confrontado com um eu mais antigo que me parece bem superior!

    By Blogger Francisco, at 16/6/05 01:17  

Enviar um comentário

<< Home