O espelho de Narciso

sábado, 8 de janeiro de 2005

Amor?

Amor é fogo que arde sem se ver... Foi Luís de Camões que assim começou por definir o amor, no seu soneto mais conhecido. As contradições do amor expressas nas 14 linhas desta forma poética estão na memória de qualquer português. E eu, num momento reflexivo, lembrei-me delas...
Sei bem que toda a amálgama de sentimentos que o poeta português exprime define na perfeição o Amor. Mas não consigo concordar com um dos versos: é um andar solitário entre a gente. Para mim, este verso exprime melhor o sentimento contrário. Não amar deixa em nós um vazio que não consegue ser alimentado nem pela maior multidão. Não amar faz-nos sentir carentes, incompletos, apesar de toda a atenção que possamos ter das pessoas que nos rodeiam.
Apesar do calor da amizade que me envolve e conforta, não amar faz-me, por vezes, sentir o gelo da solidão. E, pelo contrário, o Amor abre o meu coração... Porque o Amor não é egoísta! Quando se ama todos têm um cantinho só seu. Quando se ama a Vida ganha outro sentido e, pelo menos a mim, dá-me vontade de envolver a multidão num abraço que transmita a todos a felicidade que o meu coração alberga.
Não amar consome-me, deixa-me um vazio que não é possível mitigar... Talvez por isso, apesar do sofrimento que por vezes o Amor pode trazer, todos nós o procuramos e necessitamos dele. Luís de Camões pergunta-se: mas como causar pode seu favor/ nos corações humanos amizade,/ se tão contrário a si é o mesmo Amor? Esta é a minha resposta...