O espelho de Narciso

sábado, 18 de dezembro de 2004

Alexandre, o Grande

– Porque sois uns ingratos, porque não me quereis compreender, porque... – começou Alexandre a gritar.
Um veterano de barba grisalha e longos cabelos desgrenhados, manco, avançou e fitou-o a direito.
– Porque te queremos bem, rapaz – disse.
Alexandre mordeu os lábios, percebendo que dentro de um instante choraria como uma criança, ele, o rei da Macedónia, o Rei dos Reis, o Faraó do Egipto, o soberano da Babilónia choraria como um estúpido rapazinho diante da sua maldita soldadesca. E chorou. Lágrimas quentes, sem contenção, sem esconder sequer o rosto. E, quando, finalmente, se acalmou, disse:
– Também eu vos quero bem, bastardos!
Valerio Massimo Manfredi, Alexandre, o Grande
.
Na altura em que li a trilogia sobre Alexandre, fiquei particularmente comovida com esta passagem e não hesitei em transcrevê-la para um sítio onde pudesse recorrer rapidamente a ela. Entre os meus papéis fui resgatá-la, depois de ter visto o filme.
O que me impressiona em ambos é a humanidade que transparece do mito, o homem vulgar que vive no rei incomum que sonhou e conquistou o seu sonho. A sua força foi acreditar e fazer os homens acreditarem que podiam ir mais longe, superarem-se e vencerem mesmo contra todas as expectativas. Alexandre foi o Grande não pela sua sabedoria ou magnanimidade, mas por ser humano, imperfeito mas sempre tentando superar-se...
Vejam, leiam, conheçam... para compreenderem que os mitos começam nos sonhos!