O espelho de Narciso

domingo, 27 de março de 2005

Viagem Maravilha

Estação de Olhão! Ainda há 20 minutos estava eu sossegadamente sentada na sala e agora estou na estação, a sentir o vento na cara e a adrenalina a correr no sangue enquanto espero pelo comboio. Vou para Lisboa! Loucura, talvez, mas uma loucura saudável, por alguém que o merece.
É bom estar ali, parada ao sol, a observar os passageiros carregados de malas, a rapariga sentada no chão a fumar um cigarro, uma senhora que tal como eu deambula pela plataforma. O comboio chega, assobiando, e eu instalo-me num assento de couro encostado à janela que dá para sul. Relanceio o olhar pela estação uma última vez quando o comboio se põe em movimento, essa pequena estação que é a casa de partida da minha pequena aventura. Apetece-me acenar ao controlador que, na plataforma e vestido a rigor, com direito até ao típico chapéu, dá autorização ao maquinista para partir. E aí vou eu, contemplando com um sorriso nos lábios e o coração enorme a linda paisagem da Ria Formosa do meu lugar privilegiado na janela que dá para sul. Lá ao fundo, distingo a silhueta do farol e lembro-me dos Verões passados em casas recheadas de tios e primos, de estadias inesperadas, das correrias de crianças e pescarias. E o comboio percorre o seu caminho, mesmo à beirinha das águas calmas da Ria que reflectem o Sol primaveril.
E chego, finalmente, a Faro! Aquela estação lembra-me tantos bons momentos passados entre amigos, as chegadas, as partidas, os Estoi sempre aconchegados no meu coração... Enquanto me instalo no Intercidades penso nas outras viagens que fizemos de comboio. Tenho saudades desse tempo em que os carros ainda ficavam sossegados em casa e as viagens eram cheias de risos, música, cancioneiros dos escuteiros, improvisações e simpáticos companheiros de carruagem e deixavam muitas histórias para recordar.
A viagem através do Algarve faz-se calmamente, com muita gente animada a ocupar os lugares da carruagem, com ar de quem esteve de férias, outros com o ar mais cansado de quem faz a viagem por obrigação... Da minha janela vejo montes, amendoeiras e alfarrobeiras, a terra vermelha tão característica, o sol do fim de tarde que espreita por entre nuvens fofas... Em Tunes um homem na plataforma diz adeus e é adeus, realmente, adeus ao Algarve!
Entramos no Alentejo quando o Sol se põe e a luz que finda deixa-me ainda vislumbrar um rebanho que pasta perto de uma casa caiada e, à medida que escurece, as casas e árvores tornam-se simples silhuetas negras em contraste com o céu. No resto da viagem o nosso comboio avança envolvido no breu da noite, cortado apenas pelas estações que nos banham de uma luz pálida.
E, depois de 3 horas de caminho, desço os degraus do comboio e piso uma estação tão conhecida, tão familiar: Pragal. Cheguei! E o melhor ainda está para vir... Mas por enquanto estou feliz, feliz por uma viagem deliciosa, encantadora. Feliz porque andar de comboio é um dos meus prazeres favoritos. Encantada por essa terra maravilhosa que é o nosso país, o nosso quinhão de beleza. E, mais que tudo, feliz pela expectativa de fazer alguém feliz! E isso é, acima de tudo, o que me faz olhar em volta e amar cada momento, cada paisagem, cada recordação. É isso que me move... E, no final desta viagem, sei que vou recordar com nitidez o sorriso de uma amiga e o meu próprio sorriso, desenhado pela expectativa desse sorriso. Dois sorrisos que foram a minha companhia nesta Viagem Maravilha!

1 Comments:

  • e k gd sorriso akele c/ k me deixast nessa noite tao importante p mim.mt mt obrigada amiga por nc te eskeceres!1 beijo titi

    By Anonymous Anónimo, at 3/4/05 16:37  

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