O espelho de Narciso

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Inquietação sexual

Essa fome surda, obscura, esta sensação de me faltar qualquer coisa, que me persegue, no sono, na vigília, em cada momento da minha vida.
Que é isto? A possibilidade do amor no nosso corpo. A presença, a presença possível de uma outra pessoa.
Lars Gustafsson, A morte de um apicultor
.
Quem nunca sentiu essa força avassaladora a tomar conta do corpo e da mente? A mim, a inquietação sexual surge como o mar. O mar, essa vastidão azul e caprichosa que tem personalidade própria.
Há alturas calmas, em que as ondas lânguidas vêm tocar com suavidade no corpo e que deixam uma sensação fresca na alma. Essas ondas trazem paz e tranquilidade e fazem-me sentir leve levezinha.
Mas depois o vento passa por cima e revolta o mar, deixa-o encrespado. Acontecimentos e lembranças trazem essa tempestade sexual e essa inquietação torna-se urgência, a catadupa dos sentimentos embate com força em tudo o que encontra pela frente, os remoinhos e correntes do desejo puxam-me para o centro dessa procela e eu naufrago nessa vasta e violenta força da natureza.
E é nesta vastidão que eu navego, só e desamparada, sem encontrar porto seguro. Essa presença possível é apenas uma luzinha a tremeluzir no horizonte que há muito anseio alcançar mas que nunca parece ficar mais próxima. Tudo o que tenho é esse mar, que me rodeia, me aprisiona, me sufoca... Velejo, dia a dia, com o coração pesado, sabendo que esse lastro só dificulta o meu avanço ao encontro da luzinha no horizonte.
Mas o vento da esperança impele-me para a frente, sempre com os olhos secos e fixos no caminho que me levará até ao meu porto. Até lá fica essa fome surda, obscura, esta sensação de me faltar qualquer coisa, essa saudade de beijos e carícias, de amor derramado sobre mim, da plenitude de amar e ser amada. Fica a lembrança de pés descalços caminhando à beira-mar, beijados pelas ondas calmas e lânguidas. Fica a esperança no futuro risonho que me espera para lá do horizonte. Fico eu, lutando...

1 Comments:

  • É inevitável esse mar, é impossível ficar em terra quando o mar está bravo e não há guia possível que nos possa levar a bom porto. Esperançosamente tentamos manter-nos estáveis flutuando por cima da selvajaria das ondas que querem à força derrubar-nos, esperando essa luz que nos indique o melhor caminho.
    Compreendo-te perfeitamente.
    Jokas mto godas e gds

    By Blogger Palroni, at 15/12/04 22:49  

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