O espelho de Narciso

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Horizontes

A minha vida dilui-se e torna-se insípida entre estas quatro paredes. Quando o nosso horizonte está a meio metro de nós, na forma de folhas pousadas na mesa, e não há esperança de melhoras num futuro próximo tudo se torna monótono e cansativo.
Nestes momentos que me aprisionam, há uma força desconhecida que me impele à insensatez de abandonar a cadeira, esquecer a responsabilidade de estudar e procurar um horizonte mais amplo. O meu espírito de criança irrequieta bate o pé à imobilidade, foge da clausura e implica com a minha consciência. Acabo por me encontrar a cirandar pela casa sem destino ou propósito que não fintar o estudo, confundida pelas lutas interiores e subjugada pela vontade de largar tudo. E por fim, rendida, bato com a porta e parto ao encontro dos espaços abertos e horizontes longínquos.
Olho o céu. Passeio pelo parque. Aprecio o vento frio que me gela a ponta do nariz. Trauteio uma canção enquanto absorvo cada segundo de liberdade. Sorrio, sem saber bem porquê. E interrogo-me... O parque está vazio: porquê? Em que estreitos horizontes está o mundo embrenhado? A maioria de nós vive uma vida inteira de horizontes limitados: a prateleira de livros mesmo ali ao lado da secretária, o écran do computador do escritório, a televisão do outro lado da sala, o dinheiro que vai e vem, as montras de um qualquer centro comercial... Enquanto isto o parque está vazio e entre mim e o horizonte só existem auto-estradas pejadas de carros velozes que tentam devorar o tempo entre o horizonte do escritório e o horizonte de casa. O ritmo frenético do Mundo é tão somente o filtro que nos abstrai do horizonte, que nos tenta cegar a consciência da inutilidade de viver uma vida de horizontes limitados.
Será que quero viver assim? A criança dentro de mim puxa-me lá para fora, incentiva-me a explorar esse Mundo gigante que tanto tem para me oferecer. E eu quero segui-la, porque tomo consciência – e em especial nestes momentos em que o meu horizonte não pode estreitar mais – que só encontro sentido para a Vida quando sou capaz de olhar o horizonte bem lá ao fundo... e querer alcançá-lo!

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