O espelho de Narciso

terça-feira, 29 de março de 2005

Esperanto dos sentimentos ou o ensaio do que não se deseja realmente

O mundo é uma Torre de Babel! Falamos e não nos entendemos, somos uma raça separada pela culturalidade. É talvez uma das maiores contradições humanas, que a cultura pretenda juntar e unificar os indivíduos e, no final, os afaste dos demais pela barreira linguística.
O outro lado do Mundo, o outro lado da Europa, o outro lado do Golfo da Biscaia até, podem ser mundos desconhecidos, aterrorizadores, ostracizantes pela barreira da língua, pela mútua incompreensão. Talvez fosse esse medo do desconhecido e da sensação de solidão entre pares de línguas diferentes que tenha impulsionado a humanidade no sentido da Utopia: a criação do Esperanto, a língua universal.
E, agora, sou eu que sonho com utopias! Quem me dera que alguém tivesse a genialidade (e o tal medo do desconhecido) para criar o Esperanto dos sentimentos... Torna-se difícil lidar com as particularidades de cada um, de cada pessoa que entra nas nossas vidas temos de aprender a sua linguagem, em cada etapa de uma pessoa conhecida temos de reaprender os sinais. Quem me dera que esse universo das emoções fosse mais simples, porque estes quebra-cabeças conseguem dar com uma pessoa em doida. Não digo que sejamos máquinas que reagem a estímulos e produzem respostas estandardizadas, afinal são as diferenças de cada um que pintam o mundo de cores garridas. Mas não seria tão mais simples ter uma “segunda língua sentimental”, uma linguagem universal que tornasse tudo mais fácil?
É utópico, sei bem! Impraticável, porque é artificial. E, no fundo, indesejável... Apesar de às vezes apetecer realmente ter um descodificador de sentimentos, um modo fácil de lidar com os outros, a vida e as relações não teriam tanta graça, tanto encanto! E, no fim de contas, para que serve a Vida senão para a encher de pequenos passos ao encontro dos outros?