O espelho de Narciso

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Rabiscos da vida de todos nós

Costumo passar indiferente, fugaz, apressada, para ir encontrar a espera um pouco mais abaixo... Hoje parei! Cheia de coisas prementes e importantes para fazer, mas não de stress, pressa ou a (triste) ilusão de ganhar tempo passando apressada.
Hoje parei e olhei, não com o olhar desinteressado de quem simplesmente não olha o chão... Não com a leveza de quem olha para algo alheio a si mesmo... Hoje olhei com curiosidade, com interesse. E descobri um mundo fantástico, “rabiscado” mas, ainda assim, o mundo de quem empunhou a caneta para expressar desejos, sentimentos, pedidos, sonhos ou, simplesmente, para acompanhar conversas fluidas e divagações profundas. Encontro assim na parede a história de cada um que afinal é também de todos nós. Rabiscos ao telefone, à mesa do restaurante, num instante de neura, na expressão de amor, no crescimento, na tenra idade em que a forma mais fiel de expressão nossa são os rabiscos de que tantos outros se orgulham como se de obras de arte se tratassem... apenas momentos que nos acompanham, na nossa vida, na vida de todos nós.
Hoje parei... Desci as escadas pé ante pé, ao sabor de cada rabisco estampado na parede, e cheguei à plataforma com um sorriso, para ir ao encontro do metro que não precisei esperar. E fiquei a saborear esta experiência, tantas vezes inconsciente e tolamente adiada, com um sorriso nos lábios e o coração repleto de maravilhosos fragmentos do mundo de cada um... de todos nós!
.
Quinta das Conchas, ML