O espelho de Narciso

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Um bom serão

Ontem passei um dos melhores serões dos últimos tempos, em família. Uma ideia brilhante da minha irmã reuniu-nos em volta do tabuleiro do Trivial Pursuit, sentados no chão ou em poufs. Num só gesto, conseguimos despegar os homens da frente da televisão e sossegar um pouco a minha irmã.
O resultado foi bombástico! Entre risos e conversas, batotices e trapalhadas com os peões, estivemos por momentos todos juntos. À volta da mesinha da sala houve de tudo: a escolha sistemática das casas laranja a comprovar a cultura do futebol, as respostas precipitadas que saiam erradas quando podiam sair certas com mais 5 segundos de reflexão, a evidente geografofobia e historiofobia, o esperto que não jogou mas levou o tempo todo a responder, ainda antes que os jogadores conseguissem articular palavra alguma e, finalmente, uma sorte inesperada que me fez calhar nos queijinhos todos com perguntas fáceis – e a falta de sorte característica a voltar no desafio final!
Enfim, foi um serão que reuniu cinco pessoas numa noite de convívio que, de tão agradável, passou a voar e relegou as horas de dormir e o cansaço para segundo plano. E, quando nos levantámos do chão, estávamos bastante perros mas felizes! Porque pudemos partilhar um momento descontraído com as pessoas que conhecemos tão bem, vê-las tal como são, com as suas forças e fraquezas, maneiras de ser e de viver, desde dos descontraídos à competitiva, da despassarada ao sabichão. E sair dali a pensar “porque não fazemos isto mais vezes?”, sentindo que naquela noite tínhamos sido, realmente, uma família unida e feliz. Dá vontade de deitar no lixo a televisão, o computador, a internet, a tecnologia, e deixar voltar os antigos serões iluminados a candeias de azeite, com leituras em voz alta, cantigas, bordados, jogatanas de dominó e conversas, não dá?