O espelho de Narciso

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Sim! Porque sei ver as diferenças...

Faltam duas semanas para o referendo ao aborto... duas semanas que parecerão uma eternidade! O meu gesto mais habitual no último mês tem sido o zapping impulsivo assim que se proferem as palavras mágicas aborto e interrupção voluntária da gravidez, não numa tentativa de ignorar o que não pode ser ignorado mas no desespero de quem ouve uma e outra vez os mesmos argumentos que não me convencem e que não irão demover ninguém de uma opinião já formada.
Hoje, quebro o meu voto de silêncio e de zapping mental apenas por uma razão: porque já chega! Porque estou cansada... E porque recebi um e-mail que me tenta convencer (talvez pela milionésima vez) com uma conversa que não me convence, porque sei a diferença entre aborto e despenalização do aborto.
Diz o e-mail e dizem os defensores do Não: [A despenalização do aborto] É, de facto, um alargamento das situações em que é possível abortar: um alargamento total, a todas as situações, na exacta medida em que não é necessário sequer invocar uma razão. Deixamos de ter uma porta entreaberta, por onde só passam os casos extremos devidamente justificados, para escancarar a porta ao egoísmo e à irresponsabilidade. O que pretendem os defensores do Sim, de facto, é equiparar o aborto a um método contraceptivo. Quem não quer ter o filho que carrega por ter resultado de uma relação não consentida, por ter uma grave deficiência ou representar um risco de vida para a Mãe, tem na lei actual uma saída. O aborto baseado em todas as restantes justificações – falha ou ausência de método contraceptivo, carências sócio-económicas, etc – não é mais que um método contraceptivo à posteriori.
Digo eu, ao contrário da maioria dos defensores do Sim: Não concordo com o aborto baseado nas razões não previstas na lei actual; mas ele existe! E todos sabemos que não é por ser considerado crime e punível com pena de prisão que as mulheres irão deixar de o fazer. A despenalização do aborto não é a liberalização de uma prática mas a oportunidade de fazê-la, em alternativa à clandestinidade e às más condições de saúde e higiene, com um menor sofrimento e menor taxa de mortalidade das mulheres e com a possibilidade de um acompanhamento médico e psicológico que possa fazer a mulher reconsiderar a sua decisão de abortar. Para além disso, acredito que nenhuma mulher encare com leviandade um aborto, sabendo que põe em risco a sua vida e a possibilidade de ter filhos; o medo que trava as mulheres não é o da lei e da prisão mas o da sua saúde e dos sentimentos contraditórios de quem carrega um filho indesejado ou que não tem condições de criar.
E por isso digo Sim à despenalização do aborto! E digo não aos argumentos de quem apela à vida ou pinta o aborto de contraceptivo. Porque não estamos a falar a mesma linguagem: os que dizem não, dizem-no ao aborto - tal como eu; eu digo sim, porque o digo à despenalização e a tudo o que ela significa - menos clandestinidade e mais acompanhamento, que salvará muitas vidas femininas e evitará muitos abortos.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Hoje!

Porque o prometido é devido:

Equilíbrio ou a verdade dos provérbios

Os opostos atraem-se. Esta expressão teve sempre um significado obscuro que eu não entendia totalmente. Para mim, mais do que atraírem-se, os opostos complementam-se. As regras da atracção podem ser outras, mas o equilíbrio de forças que uma relação deve ter... isso sim, tem tudo a ver com os opostos!
Duro com duro não faz bom muro. Pessoas semelhantes têm relações mais instáveis: dois teimosos teimam sempre, dois inseguros nunca arriscam, dois temerários envolvem-se sempre em situações perigosas. Os opostos acabam por se compensarem: o sensato põe um travão ao estouvado, o pontual puxa pelo atrasado, o confiante alisa o terreno para o inseguro. Os opostos tendem, através da convivência e da mútua cedência derivada do confronto de formas diferentes de ser e estar, a suaviarem-se e a instalarem-se num registo médio, nem tanto ao mar nem tanto à terra. E isso faz milagres pelas relações!...

Outubro de 2006