O espelho de Narciso

segunda-feira, 26 de junho de 2006

Diz o povo e com razão! (2)

Amanhã há greve. Os funcionários do Metropolitano de Lisboa reinvindicam o alargamento do prazo do Acordo da Empresa e, na tentativa de dissuadirem o conselho de gerência, o metro pára e milhares de utentes dão voltas à cabeça, rotina e (outros) transportes disponíveis para resolver o problema de se deslocarem até ao emprego. Ou seja, como diz o povo, “quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão”.
A este mexilhão aqui saiu-lhe a sorte grande, que amanhã não tem de se agarrar a essa rocha. Mas quantos milhares de mexilhões estarão amanhã e quinta-feira a levar porrada desse mar tempestuoso? E, mal ou bem, lá o mexilhão se acomoda por dois dias à tempestade, esperando apenas que o seu sofrimento compense alguém no meio disto tudo. Porque isto das greves faz-me algum sentido e tem um certo propósito, mas de facto quem fica mais prejudicado é sempre o pobre mexilhão que não tem culpa de nada. Mas também, não está já o mexilhão habituado a levar porrada?...

domingo, 25 de junho de 2006

I wish

I wish I could break all the chains holding me.
Lighthouse Family

terça-feira, 13 de junho de 2006

Estrela da Tarde

Um dos mais belos poemas de Ary dos Santos... Um dos fados mais arrebatadores de Carlos do Carmo. Indiscutivelmente ligado às minhas memórias de infância e à minha irmã, que tanto gosta deste Estrela da Tarde. Aqui fica, para vosso deleite...

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Mãos

Lembro-me de me teres apertado o dedo com força, quando ainda não a tinhas para abrir os olhos. Lembro-me dessas maõzinhas esguias que agitas na frente da cara, ainda sem saberes muito bem o que são. E lembro-me que descobriste que servem para meter na boca e que ficam numa posição confortável debaixo das correias da cadeirinha. Essas maõzinhas são como as minhas, de dedos esguios, tão perfeitinhas e macias que apetece acariciar durante uma eternidade, enquanto te observo embevecida.
Tenho saudades tuas, pequenino! Não me canso de te contemplar e mimar e pegar ao colo e ter-te na minha vida e amar-te com todo o enorme amor de tia que me preenche e estar longe de ti cria um grande vazio cá dentro. Tenho saudades tuas...

segunda-feira, 5 de junho de 2006

Aconchego

Na minha habitual visita domingueira ao PostSecret, encontrei este postal:


E, subitamente, senti as lágrimas aflorarem os meus olhos... talvez sem perceber muito bem porquê, sentindo apenas que a resposta do carteiro era algo que me tocava de um modo indefinidamente especial.
Depois, logo abaixo deparei-me com este e-mail:

-----Original Message-----
Sent: Sunday, June 04, 2006 1:11 PM
Subject: mailman/we know
The mailman postcard - for some reason - actually made me cry. It put a face on every card, it put a face on every person who touches or reads it. I guess until now I'd always read with a kind of aloofness and that card made it all so real.
We're all real people reaching out to each other, and some post person wanted to let us know without a doubt, we're being heard.
- ohio

E aí percebi que essas eram as palavras que flutuavam no meu espírito enquanto as lágrimas me bailavam nos olhos. Percebi que a minha emoção foi provavelmente sentida por cada um que pousou os olhos nesse postal e que eram de conforto essas lágrimas, do conforto de saber que algures, no mundo, alguém de facto nos ouve e compreende e corresponde. Que haverá sempre alguém no mundo para nós, sempre que precisarmos...
E com as lágrimas veio então um sorriso! Um sorriso de aconchego...