O espelho de Narciso

quarta-feira, 29 de junho de 2005

Apesar de preferir chocolate preto...

You are Milk Chocolate

A total dreamer, you spend most of your time with your head in the clouds. You often think of the future, and you are always working toward your ideal life. Also nostalgic, you rarely forget a meaningful moment... even those from long ago.

What Kind of Chocolate Are You? Take This Quiz :)

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Saudades...

Passaram os santos populares, as festas do meu coração, enquanto eu estudava e trabalhava suadamente... Santo António e S. João estão guardados no peito com a marca da saudade, recordando alturas felizes da minha vida!
Nunca vou esquecer a experiência que foi descer a Avenida, no ano passado, em noite de Santo António, de saia rodada e sorriso no rosto, transportando ao peito com orgulho o bairro que foi meu durante dois meses de esforço e dedicação. Ainda me lembro das lágrimas que marejaram os meus olhos no final e na saudade que sinto desses amigos e desse convívio fascinante, diferente e caloroso. Foi há um ano... e este ano assisti às marchas de longe, bem longe da minha terra, com o coração apertado de saudade e de desejo de voltar a descer aquela avenida, sorridente e emocionada.
Por S. João também marchei, ainda em tenra idade, no colégio a que chamei casa durante meia vida. Todos os anos o nosso Arraial era um local de encontro, de diversão e de alegria, salpicado de despedidas que eram um "até Setembro". Levávamos a noite inteira a comprar rifas, na esperança de ganhar aquela bicicleta fantástica, enquanto nas mesas onde os pais conviviam cresciam as pilhas de discos de vinil e sabão azul e branco e se alinhavam garrafas de óleo. Era o dia em que podíamos explorar os recantos dos jardins e dos campos à noite e juntarmo-nos atrás do bar para conversar. E, quando alguns de nós já tinham saído, era o momento de todos os reencontros! Os convites que recebi para o Arraial este ano fizeram-me recordar com saudade o colégio onde cresci, com os seus belos jardins, o calor humano que nos faz sentir uma grande família, os sorrisos que ainda recebo quando vou lá matar saudades... E, apesar de tanto reclamarmos enquanto andamos lá, sabemos que somos amados como filhos e que somos sempre benvindos, sempre acarinhados! E é por isso que gosto tanto de lá voltar...

quinta-feira, 23 de junho de 2005

Cantinho secreto

Todos temos o nosso canto secreto, reservado, afastado dos olhos do mundo, onde nos vamos recostar para derramar as nossas lágrimas agridoces, sorrir, sonhar, agradecer secretamente a Deus cada benção da vida, gritar... No nosso canto, só nosso, podemos libertar-nos das amarras que nos enovelam as pernas e nos fazem andar em passos cautelosos por entre a multidão da nossa vida, podemos esquecer os dedos apontados, os receios, as desilusões e destapar camada a camada o nosso eu, o verdadeiro eu que dorme um sono intranquilo e sedado pela etiqueta e que, quando acorda, dá comichão no corpo, sacode o pensamento, grita aos ouvidos da alma se cede à loucura e atordoa a nossa vida. No nosso cantinho secreto somos só nós, com tudo aquilo que queremos exprimir, sem amarras, sem silêncios constrangidos, sem guerras abertas... em secreta paz com o que nos perturba... em diálogo com cada parcela do nosso ser multifacetado e peculiar.

Fragmento perdido do meu cantinho secreto para o meio da multidão...

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Esperança

Hope is a very dangerous thing to lose.
Naveen Andrews as Sayid, Lost

Porque às vezes é tudo o que nos resta... É por isso que devemos sempre ter fé, ter esperança e acreditar, nem que seja por um ínfimo e insano momento. É por isso que faço da esperança a minha bandeira, quando tudo o resto naufraga e se dissolve na chuva da triste realidade. É por isso que me agarro a ela e penso para mim mesma: “Ao menos isso ainda me resta – e ninguém ma pode tirar... porque ela só precisa da minha força, da minha fé...” E é por isso que sei que posso vencer!

sexta-feira, 17 de junho de 2005

Tudo o que eu preciso...

Deita-te aqui ao pé de mim
E deixa-te ficar assim
Gosto de te ouvir respirar
E olhar o teu meio-sorriso desenhado no teu rosto
Quando estás assim ao pé de mim.

Excerto de A um desconhecido
29 de Abril de 2004
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É tudo o que eu preciso... Uma presença reconfortante, tranquila e feliz, que apague esta solidão que pinta a minha vida a carvão...

terça-feira, 14 de junho de 2005

Reflexo de mim

“Eu escrevo porque tenho necessidade de escrever.” Eugénio de Andrade

Palavras que são um reflexo de mim... De todas as páginas escritas que enchem e narram a minha vida... De todos os momentos passados de caneta em punho ou dedos pousados no teclado... De uma vida que, sem a escrita, é apenas meia vida!

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Samwise Gamgee

Não resisti a esta personagem... À sua dedicação, à sua bondade, à sua fé inabalável... Não resisti ao encanto que exercem sobre mim as coisas simples e generosas... Não resisti a amar este hobbit, saído das profundezas do imaginário de JRR Tolkien, símbolo da virtude e da persistência...
Perguntaram-me um dia qual era a minha personagem preferida d’O Senhor dos Anéis. Agora que chego ao fim, posso dizê-lo com toda a certeza: Samwise Gamgee. Porque personifica tantas coisas que amo e quero ser!...

O pó das recordações

Fragmentos de uma vida passada desfilam no meu pensamento... Inesperadamente, sem serem convidados, sem pedirem sequer licença para entrar... Entram por mim adentro, como uma rabanada de vento que abre subitamente uma janela encostada. E, tal como uma rabanada de vento, deixam pelo chão um mundo revolto de recordações... Sons, cheiros e imagens levam-me pelos meandros da memória, pelos caminhos que percorri uma vez para nunca mais esquecer e voltar depois, repisando os meus passos... uma vez... e outra... e outra... até a poeira que levanto em cada passo arder nos olhos e na garganta e as lágrimas escorrerem pela minha face. Sufoco, querendo sacudir do corpo a poeira e todos esses fragmentos... Mas eles colam-se à pele, ao coração, à alma, soterram-me e eu não compreendo... Não compreendo o que os trouxe nem o que os deixa ficar. E não compreendo porque olho e vejo esta luta tão distante, como se fosse também só um fragmento de mim que lutasse, enquanto assisto de longe... Não compreendo que caminhos são estes, que pés são estes que caminham, que recordações me empurram ou me chamam... Não compreendo sequer este fragmento de mim! E sufoco...

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Rabiscos da vida de todos nós

Costumo passar indiferente, fugaz, apressada, para ir encontrar a espera um pouco mais abaixo... Hoje parei! Cheia de coisas prementes e importantes para fazer, mas não de stress, pressa ou a (triste) ilusão de ganhar tempo passando apressada.
Hoje parei e olhei, não com o olhar desinteressado de quem simplesmente não olha o chão... Não com a leveza de quem olha para algo alheio a si mesmo... Hoje olhei com curiosidade, com interesse. E descobri um mundo fantástico, “rabiscado” mas, ainda assim, o mundo de quem empunhou a caneta para expressar desejos, sentimentos, pedidos, sonhos ou, simplesmente, para acompanhar conversas fluidas e divagações profundas. Encontro assim na parede a história de cada um que afinal é também de todos nós. Rabiscos ao telefone, à mesa do restaurante, num instante de neura, na expressão de amor, no crescimento, na tenra idade em que a forma mais fiel de expressão nossa são os rabiscos de que tantos outros se orgulham como se de obras de arte se tratassem... apenas momentos que nos acompanham, na nossa vida, na vida de todos nós.
Hoje parei... Desci as escadas pé ante pé, ao sabor de cada rabisco estampado na parede, e cheguei à plataforma com um sorriso, para ir ao encontro do metro que não precisei esperar. E fiquei a saborear esta experiência, tantas vezes inconsciente e tolamente adiada, com um sorriso nos lábios e o coração repleto de maravilhosos fragmentos do mundo de cada um... de todos nós!
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Quinta das Conchas, ML

quarta-feira, 1 de junho de 2005

O amolador

Três ou quatro acordes vibraram no ar... Acordes metálicos, agudos, chamativos. O meu sorriso abriu-se, à medida que as recordações de infância me enchiam a cabeça. E, tal como quando era criança, corri para a janela para ver o amolador passar. Simplesmente ver o meu passado e o passado de um país de pregões... Há quanto tempo não o via passar!
Ainda me lembro da melodia clara que o amolador soprava na harmónica, mesmo debaixo da janela do meu quarto aos Sábados de manhã. Ou, quando se atrasava ou a clientela era muita, encontrava-me à tarde pendurada na janela da cozinha a fazer bolas de sabão. Lembro-me ainda de perguntar à minha mãe que música era aquela, quando ainda não sabia o que fazia aquele senhor com uma mota cheia de instrumentos. Lembro-me de sentir o chamamento da harmónica como um encantamento, que me arrastava e prendia à janela. E gostava de ver chegar as pessoas com as suas facas e tesouras...
Parece tão longe no tempo, esta recordação! Agora a janela é outra, a rua não é plana e eu não preciso de me pôr em “bicos de pés” para chegar ao parapeito e espreitar lá para baixo. Mas o encantamento ainda é o mesmo, ainda são as mesmas notas claras e metálicas que saem da harmónica (ou gaita-de-beiços ou, curiosamente, flauta de amolador, diz o meu dicionário) e nos arrastam, como que hipnotizados, ao seu encontro... E, acima de tudo, têm o encantamento de carregarem em si toda uma tradição quase perdida e que faz parte da nossa cidade, do nosso país, da nossa história. Já dizia o fado: Olhai, senhores / Esta Lisboa de outras eras / Dos cinco réis, das esperas / E das touradas reais / Das festas / Das seculares procissões / Dos populares pregões matinais / Que já não voltam mais!