O espelho de Narciso

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Gosto de viver

Com o olhar cheio de esperança líquida.

domingo, 27 de novembro de 2005

Recuar

Sometimes the best way to deliver punches is step back.
Morgan Freeman as Eddie Scrap-Iron Dupris, Million Dollar Baby

E é sempre o passo mais difícil de executar! Recuar parece sempre a pior opção mas muitas vezes é a mais acertada e certeira...

sexta-feira, 25 de novembro de 2005

Assim reflectida

Lembro-me sempre do que considero um dos maiores elogios que já me fizeram. Veio de um colega de turma com o qual me dava bem mas com pouca proximidade. Era uma pessoa reservada mas, apesar de ter caído de pára-quedas numa turma já constituída e com ligações muito fortes, gostava de socializar. Gostei sempre dele e é dele que me lembro sempre que esse momento me vem à memória.
Passou-se numa aula de Educação Física em que jogávamos uma partida de futebol. E o Tiago lá decide comentar, num intervalo: “A Rita farta-se de jogar, faz o campo todo!” Para muitos uma frase destas poderia não dizer nada... Para mim significou um mundo! Afinal, a forma como jogo (ou melhor, jogava) futebol reflecte o modo como sou em todos os campos da minha vida. E ver isso valorizado por alguém enfunou a minha alma de orgulho e amor-próprio.
É verdade! Gosto de jogar à defesa, lá no fundo onde não sou notada. Mas empenho-me à séria no meu papel e quem estiver com atenção ou a aturar-me no campo percebe que, da minha posição resguardada, gosto de controlar e pôr o jogo a mexer: percorro as alas laterais, dou indicações, chamo a atenção... mas dispenso os remates que empurram os jogadores para o “estrelato”! Prefiro oferecê-los de bandeja... Mas é assim que gosto de ser, alguém que trabalha afincadamente para que a equipa funcione, sem se sujeitar aos projectores da fama. Se me faço notada, gosto de o ser pelo esforço e não pela glória!
E é por isso que, naquele dia, o comentário do Tiago tornou-se uma das minhas bandeiras, uma prova de que a minha maneira de ser pode ser valorizada e o maior elogio que recordo. E vindo de alguém com quem tinha pouca proximidade significou mundos para mim...

Onde quer que estejas, um beijo enorme para ti, Tiago! =)

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Música

Gosto de música na minha vida!
Adormecer ao som do meu CD preferido... Acordar com os tresloucados das MegaManhãs a rir e falar e passar todas aquelas músicas que nos põem bem-dispostos logo cedo... Cantar de manhã à noite, até enjoar toda a gente à minha volta... Dançar nos corredores do prédio ao som da música ambiente e de repente, ups!, dar de caras com um vizinho... Ter o pássaro por companhia na desgarrada entre a aparelhagem bem alta e a minha voz desafinada...
E gosto ainda mais de juntar música à minha vida! Associar letras a fases e humores, melodias a caras conhecidas, acordes a situações, timbres a sentimentos... Sabe tão bem ouvir uma música velhinha e lembrar um amor de adolescência, trautear um trecho que subitamente faz todo o sentido ou, simplesmente, lembrar-me de uma melodia tão familiar e desenhar-se no meu pensamento, com todas as suas nuances, as coisas boas, óptimas e maravilhosas que tenho na vida.
Tal como hoje!... Num momento cruzo-me com um conhecido e no seguinte, com um passe de mágica inconsciente que me leva em segundos por enormes labirintos de associações, dou por mim de sorriso rasgado a trautear: Sunday morning, rain is falling... E esse sorriso foi capaz de iluminar o meu dia chuvoso!

segunda-feira, 21 de novembro de 2005

Estatísticas

Fazendo contas à vida: 365 dias, 153 posts, cerca de 28 mil palavras, 64 comentários e 14 comentadores depois, continuo aqui reflectida nas minhas mais diversas formas... Quase todas! Apesar de muitos anseios, alegrias, tristezas e opiniões estarem cunhadas nestas páginas, há sempre aqueles sentimentos e pensamentos mais meus que pertencem ao meu cantinho secreto e que só existem aqui enquanto aragens leves e misteriosas. De resto, sou apenas eu, entregue à partilha e ao desabafo...
A todos os que passaram e passam por este cantinho, obrigada por me lerem, por se lerem e se reflectirem aqui também. Quem me conhece sabe que as portas estão sempre abertas e que hei-de ser sempre um livro que podem folhear. E estas páginas hão-de continuar sempre a ser para vocês!
Beijinhos gigantes.

Quem sempre fui

Há momentos em que vejo que ainda sou a mesma rapariga que sempre fui. A sombra do passado ainda mancha as pegadas que vou imprimindo no presente...
Pensei que tivesse deixado essa parte de mim junto de recordações amargas, com dois palmos de terra em cima. Mas afinal os meus temores de menina ainda minam a forma como vejo tudo à minha volta. Afinal, ainda sou a mesma menina assustada e receosa de que o mundo lhe vire as costas e a deixe abandonada! E é por isso que vivo o tempo todo relanceando o olhar em redor, espreitando por cima do ombro, medindo cada palavra minha e cada atitude alheia, sem nunca deixar de me preocupar... E sofro! Sofro por cada sobressalto, cada suposição, cada desconfiança que lanço sobre tudo e todos...
Pensei que os meus temores de menina tivessem ficado enterrados! Mas, afinal, ainda não sei confiar...

domingo, 20 de novembro de 2005

Só para picar o ponto!

Tem sido uma semana agitada! Mas cada vez que me sento à secretária sou completamente absorvida pela tarefa em mãos e nem dou pelas horas passarem... Horas que passam tão velozes como instantes, instantes que perduram na memória como se fossem horas inteiras vividas.
Está a ser uma experiência extenuante, este quinto ano! Mas o cansaço no corpo lembra-me o quanto estou a aprender e não me arrependo de um único minuto de sono ou lazer perdido...

sábado, 12 de novembro de 2005

Imperdível!

Manhãs. O cheiro a terra molhada. Cantar no carro. Castanhas assadas, o cheiro. Praia, sempre. A bola. Ligar o microfone. O gozo de ir. O prazer de estar. Ler e pensar: é isto mesmo. O que não se diz. O que tem de ser dito. O Amor. O sexo. Sítios onde quero ir. Amigos, todos. Água fresca. Longos almoços. Longos jantares. A paz. O mar. Chuva na janela. O que se escreve e não se mostra. Fraquezas. Chocolate. Adrenalina. Dever cumprido. Olhares que decidem. Todos os dias trazem qualquer coisa...

Uma leitura deliciosa, inspirada, risonha... Teclas dedilhadas com dedicação por um grande homem, que nos acompanha no “Bom dia!” a cada manhã e nos deixa bem-dispostos. Um grande exemplo de coragem e perseverança, optimismo e boa disposição, vontade de partilhar e eterna meninice.
Imperdível, este Dias Úteis de Pedro Ribeiro!

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Edward Bloom day

I shot this day I’ll ever forget. […] I got home that day and I sat and talk to my girl and I said: “I had the most incredible day: I won a baseball game, I won a football game, I won a basketball game and everyone loved me and cheered. I feel fantastic!” It was really great!
I think once a year instead of birthday we should have a kind of Edward Bloom day, where you get to feel great.
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Ewan McGregor, Big Fish: Edward Bloom at large
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Subscrevo! Um dia em grande é o melhor remédio para as pequenas e grandes dores da alma...

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Sensações

Gosto de andar na rua quando o frio já morde as faces. Sentir o ar fresco e revigorante deixa-me bem-disposta e desperta para a vida. E hoje estava um desses deliciosos dias, com uma poalha húmida a cair, a que nem o nome de chuva se pode dar.
Sei que esta é provavelmente a receita ideal para constipações. Mas pela sensação de frescura e energia sou capaz de arriscar uma dessas!...

“Gostei de ver que estás feliz...”

Foi com surpresa que ouvi este comentário! Mas no mesmo instante que o ouvi percebi quanta verdade existia nele...
Estou muito feliz com o meu estágio! É uma experiência tão nova e ao mesmo tão familiar, de tão desejada e imaginada que foi, que me sinto completamente realizada. Cada dia de descoberta, de trabalho suado, de rasgos criativos ou de extenuantes análises, de entrega e de vontade de ajudar os meus miúdos é uma fonte de sorrisos rasgados que se estampam na minha cara e não mais saem.
Ao ouvir este comentário notei o quanto sorria ao falar da experiência maravilhosa que está a ser o estágio, e o quanto tenho sorrido nos últimos tempos, apesar de andar assoberbada com trabalho. Porque, tenho toda a certeza do mundo, é mesmo isto que quero fazer!

sábado, 5 de novembro de 2005

Meta-pensamento

Gosto de pensar que tudo acontece por uma razão. É um modo de aceitar de forma mais natural as partidas que a vida nos prega...

sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Esta Lisboa que eu amo...

Hoje fiz questão de oferecer um bombom a mim própria!
Num dia passado de sorriso aberto pelas mais pequenas coisas, passar na Lisboa que eu amo foi mais forte do que eu! O apelo das aguarelas da Rua Augusta, do castelo recortado contra o céu azul, do cheiro bom das castanhas assadas no ar tocou o meu coração alfacinha e acabei sentada no Terreiro do Paço a observar o vaivém de turistas e trabalhadores e a saborear uma dúzia de “quentes e boas”.
Enquanto me deixava embalar pelo pulsar da cidade, a minha memória encheu-se de sons, cores e palavras que pintam Lisboa como ela é, extraordinariamente bela e amada. Amalgamada entre Carlos do Carmo e Amália, Ary dos Santos e Fernando Pessoa, surge uma música que acompanhou a minha infância: a de um sketch do teatro de revista “A Prova dos Novos”, onde Marina Mota é um mendigo que fala da sua Lisboa. Se puderem, vejam! Mesmo...
Aqui fica a transcrição:

Os lisboetas ao domingo vão para a praia. Eu como não tenho ‘pingo’ fico numa boa. Sou alfacinha e os da minha laia querem lá saber da praia. Gostam é de Lisboa!
É verdade, senhores, nasci na rua, na rua desta Lisboa que eu amo por tradição. Ouvi cantar a poetas tempos que já lá vão! Corri Alfama, a Ribeira, a Junqueira, a Madragoa. Vi aguarelas tão belas dos pintores desta Lisboa! Ver o Terreiro do Trigo, o Bairro Alto e a Ajuda... Dizem que é velho e antigo, então venham ver comigo as janelas da Maluda.
Vêm pr’aí uns pedantes, bem vestidos, bem falantes, de Nova Iorque e do Rio. Por lá são sempre enganados, nas ruas são assaltados, chegam cá... não dizem ‘pio’! Ah, mas nunca se contradizem, gostam de outras capitais. “Lisboa é suja, é espelunca, só tem droga, marginais”. O que eles não dizem nunca é que lá há muito mais! E dizem sempre os pedantes que Lisboa à beira-mar já não é o que era dantes. Sabem lá o que é gostar! Perguntem aos emigrantes o que sentem ao chegar...
Se a vida aqui não é boa, a cidade não tem culpa. Mas eu... Eu gosto de Lisboa! Se ‘tá mal, peço desculpa.

Eu lá da minha janela vejo a cidade e a cor. Um jovem casa com ela por amor a esse amor. Não andem para aí à toa por dentro dessa Lisboa!
Dizem que é velha e antiga, que belo é Londres, Paris. Bem, por aquilo que diz, viver cá é um horror! Mas quando chegam ao Tejo, mordidinhos de desejo, sentem remorsos e dor.

Lisboa abre uma janela e só não casa com ela quem não sabe o que é amor!

¯¯
Desta janela eu vou sofrer a terra inteira
E a minha rua só acaba se eu quiser
Parto num sonho com a saudade à cabeceira
E quando acordo outra manhã se fez mulher.

E um turbilhão de ideias loucas me devora
Quando me perco meio tonto em teu olhar
Quando me encontro no teu grito que demora
Então eu sei que a hora é certa de te amar.

Voo sobre o céu de Lisboa
Mas não vejo fragatas entre os braços do Tejo
Sonho mas já não há canoas
Nem varinas gaiatas a quem roubar um beijo
Olho, vejo arcadas vazias
Onde falta o Pessoa, o Cesário e o Botto
Lembro, junto ao cais, melodias
Que embalavam Lisboa e recordam Lisboa ‘inda eu era garoto.

Duas colunas a um passo do castelo
E um terreiro onde moraram ilusões
Gatos vadios ainda se batem em duelo
Sob o olhar da velha estátua do Camões.

Um golpe d’asa rasa o cimo do convento
Cruzo a avenida, esqueço a sede no Rossio
Um cacilheiro rasga as águas num lamento
E a noite aos poucos vem deitar-se com o rio.

Voo sobre o céu de Lisboa
Mas não vejo fragatas entre os braços do Tejo
Sonho mas já não há canoas
Nem varinas gaiatas a quem roubar um beijo
Olho, vejo arcadas vazias
Onde falta o Pessoa, o Cesário e o Botto
Lembro, junto ao cais, melodias
Que embalavam Lisboa e recordam Lisboa ‘inda eu era garoto.

Que embalavam Lisboa...
E recordam Lisboa...
‘Inda eu era garoto!
A Prova dos Novos (1988)

terça-feira, 1 de novembro de 2005

Gestos simples

Nos dias em que há montanhas de coisas para fazer, urgentes e inadiáveis, são sempre aqueles em que arranjamos tempo para fazer tudo, excepto as ditas coisas urgentes e inadiáveis. Principalmente quando as ditas coisas são impostas, com finalidades absurdas ou objectivos pouco claros...
Hoje é um desses dias! Apetece-me escrever, arrumar, sentar no sofá, ouvir música... Apetece-me olhar só para o mundo, deixá-lo correr em frente dos meus olhos enquanto me perco em devaneios e nostalgia... Apetecem-me todos os gestos simples da vida que me abrem um sorriso! Tal como debruçar-me à janela e perder-me na beleza de um pôr-do-sol...

Odivelas, Junho 2005

Porque nunca esquecemos...

Ninguém esquece um grande amor. Apenas aprende a falar nele sem que os seus olhos se encham de lágrimas.
Avelino Sotta Neto
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Num caderno poeirento da minha adolescência, jaz este pensamento entre tantos outros. Frases que saciavam a minha fome de compreender o amor... E, entre muitas outras, esta foi uma frase que me marcou e que nunca esqueci.
Agora consigo entender o seu significado... Alguns amores entraram e saíram da minha vida. Fazem agora parte do passado, guardados religiosamente em caixinhas de recordações. Mas todos eles ocuparão sempre um lugar especial no meu coração. Porque me recordam pessoas especiais que tocaram o meu coração de uma forma especial e me fizeram sentir especial. Porque o tempo, embora apague as mágoas e sare as feridas, deixa-nos guardar os doces momentos e recordá-los sempre com carinho.
E é por isso que um sorriso se abre quando olhamos para uma pessoa que foi tão especial para nós. É por isso que um beijo cândido é sempre tão doce. É por isso que o nosso coração se alegra e entristece com o ondular incerto dessa vida. E é por isso que, por maior que tenha sido o sofrimento e por maior que seja a distância, uma conquista é sempre tão feliz e uma perda tão dolorosa. Porque nunca esquecemos alguém que foi especial...