O espelho de Narciso

segunda-feira, 27 de dezembro de 2004

A propósito

Ontem, alguns milhares de pessoas leram uma citação de Einstein na Pública, a revista de domingo do jornal Público. Mas talvez para nenhuma delas tenha atingido o significado que atingiu para mim. Porque, bastante a propósito, tocava um tema que há uma semana nos entreteve em volta de uma mesa de café acerca das ciências exactas – e se, no fundo, haveria alguma ciência realmente exacta. Nós, de Psicologia, defendíamos a nossa ciência com unhas e dentes, pondo no outro prato da balança a “não exactidão” de todas as ciências; outros havia que diziam que a Matemática era a única ciência realmente exacta. Aqui fica a resposta do mestre Einstein: na medida em que as proposições da matemática se relacionam com a realidade não são certas, e na medida em que elas são certas, não se relacionam com a realidade.
É caso para dizer: e esta, hein?

sexta-feira, 24 de dezembro de 2004

O meu presente

É tão bom partilhar uma tarde especial com alguém que gosto tanto, ouvir a voz de um amigo longe de mim mas sempre pertinho do coração, receber mensagens inesperadas que me rasgam um sorriso no rosto... É bom ter todas estas pessoas aconchegadas no meu coração e sentir-me aconchegadas nos corações deles! É bom que esta época nos deixe a todos mais abertos ao Amor e à Paz...
E, por isso, o que eu quero de presente neste Natal é que possamos viver esta época nos 365 dias do ano! Quero nunca me esquecer de erguer bandeiras de tréguas, acender velas pela paz e mostrar a todos o quanto vos amo... Quero que também vocês nunca se esqueçam desses pequenos gestos que nos tornam tão felizes e o quanto eles fazem falta, sempre. Quero guardar estes momentos no meu coração e lembrar-me de os viver a cada instante da minha vida, para nunca os perder no vazio do Tempo.
Um Feliz Natal recheado de todas as coisas boas com que todos sonhamos!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2004

De partida!

Aqui estou eu, de malas já prontas. As (verdadeiras) férias familiares de Natal começam agora, de partida para o Algarve, para junto da família. A ausência não vai ser longa mas a saudade já aperta! Saudade de tudo e de todos, mas principalmente a saudade daqueles que são os pilares da minha existência. Fica a certeza da persistência do pensamento e o desejo de ficar junto aos seus corações neste Natal da mesma forma que estarão junto ao meu.
A todos, um Feliz Natal repleto de amor e alegria e muitos beijos já saudosos e sempre carregados de carinho!

Erasmus

Grande é a saudade destes amigos tão distantes! Três meses é uma longa distância... Três meses privada das conversas, risos e vivências a que os nossos amigos nos habituaram deixaram-me um vazio na alma. Um vazio que devorou cada instante de reencontro com voracidade, no desespero de se preencher. Adorei cada momento, cada estória, cada riso, cada bocadinho de vida que nos foi dado a conhecer dessa aventura gonçalesca. Só tenho pena de não continuar por cá para absorver esta oportunidade tão curta de matar saudades de quem regressou e voltará a partir. E tenho pena desses outros reencontros que talvez não consiga viver...
Mas quero que saibam, amigos Erasmus, se por acaso encontrarem o caminho até este pequeno espaço, que vos adoro e morro de saudades vossas a cada dia que passa. E que estou a torcer por vocês, para que saiam vitoriosos e muito mais ricos em experiências dessa vossa aventura. Aproveitem estes dias portugueses ao máximo! Muitos muitos beijos desta vossa amiga.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2004

Um enorme OBRIGADA!

A vida tem-me sorrido! Descontando as contrariedades do dia-a-dia com que todos temos de lidar, posso dizer que me sinto feliz com tudo o que a Vida me presenteia. E nestes últimos tempos, não sei se atingida pelo espírito natalício de amor e partilha, tenho andado de coração aberto. Apetece-me beijar os meus amigos e familiares, dizer-lhes que os amo, apoiá-los, apoiar-me neles, distribuir sorrisos, viver cada instante com intensidade...
Todos vocês são a minha força motriz e por isso vos endereço um enorme OBRIGADA por me sentir assim, feliz!

sábado, 18 de dezembro de 2004

Alexandre, o Grande

– Porque sois uns ingratos, porque não me quereis compreender, porque... – começou Alexandre a gritar.
Um veterano de barba grisalha e longos cabelos desgrenhados, manco, avançou e fitou-o a direito.
– Porque te queremos bem, rapaz – disse.
Alexandre mordeu os lábios, percebendo que dentro de um instante choraria como uma criança, ele, o rei da Macedónia, o Rei dos Reis, o Faraó do Egipto, o soberano da Babilónia choraria como um estúpido rapazinho diante da sua maldita soldadesca. E chorou. Lágrimas quentes, sem contenção, sem esconder sequer o rosto. E, quando, finalmente, se acalmou, disse:
– Também eu vos quero bem, bastardos!
Valerio Massimo Manfredi, Alexandre, o Grande
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Na altura em que li a trilogia sobre Alexandre, fiquei particularmente comovida com esta passagem e não hesitei em transcrevê-la para um sítio onde pudesse recorrer rapidamente a ela. Entre os meus papéis fui resgatá-la, depois de ter visto o filme.
O que me impressiona em ambos é a humanidade que transparece do mito, o homem vulgar que vive no rei incomum que sonhou e conquistou o seu sonho. A sua força foi acreditar e fazer os homens acreditarem que podiam ir mais longe, superarem-se e vencerem mesmo contra todas as expectativas. Alexandre foi o Grande não pela sua sabedoria ou magnanimidade, mas por ser humano, imperfeito mas sempre tentando superar-se...
Vejam, leiam, conheçam... para compreenderem que os mitos começam nos sonhos!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Castelos no ar

(Já) Não é fácil construir castelos no ar!
Neste mundo carregado de regras e dogmas, sinto que até os próprios sonhos são controlados... Já não conseguimos sonhar apenas um terreno bom para alicerçar os nossos sonhos, é preciso ter um registo de propriedade. Já não podemos construir à nossa vontade uma humilde cabana ou um magnífico palacete, temos de nos guiar pelo PDM e pelo RGEU. Já não podemos morar lá quando nos apetecer e fazer o que quisermos, temos de prestar contas às Finanças e pagar os impostos. Precisamos de pedir licença a meio mundo para sonhar e esperar a autorização da outra metade para viver o que sonhamos.
Às vezes só me apetece gritar, romper esses véus e muros que nos engaiolam como espécimes à espera de comprador e que nos restringem ao que os outros definiram para nós. Quero quebrar essas correntes invisíveis com que me agrilhoaram à nascença e que me controlam, quero desfazer essas expectativas e convenções que me limitam. Quero construir o meu castelo no ar com sonhos reais e sentimentos verdadeiros, quero fazê-lo à minha maneira, sem ninguém a dizer-me como o devo fazer. Quero viver os meus sonhos sem receio do amanhã, das represálias, das repressões. Quero sacudir o pó, o medo e a realidade de cima de mim e deixar-me ir, mesmo contra toda a sensatez... Simplesmente deixar-me ir!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2004

Inquietação sexual

Essa fome surda, obscura, esta sensação de me faltar qualquer coisa, que me persegue, no sono, na vigília, em cada momento da minha vida.
Que é isto? A possibilidade do amor no nosso corpo. A presença, a presença possível de uma outra pessoa.
Lars Gustafsson, A morte de um apicultor
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Quem nunca sentiu essa força avassaladora a tomar conta do corpo e da mente? A mim, a inquietação sexual surge como o mar. O mar, essa vastidão azul e caprichosa que tem personalidade própria.
Há alturas calmas, em que as ondas lânguidas vêm tocar com suavidade no corpo e que deixam uma sensação fresca na alma. Essas ondas trazem paz e tranquilidade e fazem-me sentir leve levezinha.
Mas depois o vento passa por cima e revolta o mar, deixa-o encrespado. Acontecimentos e lembranças trazem essa tempestade sexual e essa inquietação torna-se urgência, a catadupa dos sentimentos embate com força em tudo o que encontra pela frente, os remoinhos e correntes do desejo puxam-me para o centro dessa procela e eu naufrago nessa vasta e violenta força da natureza.
E é nesta vastidão que eu navego, só e desamparada, sem encontrar porto seguro. Essa presença possível é apenas uma luzinha a tremeluzir no horizonte que há muito anseio alcançar mas que nunca parece ficar mais próxima. Tudo o que tenho é esse mar, que me rodeia, me aprisiona, me sufoca... Velejo, dia a dia, com o coração pesado, sabendo que esse lastro só dificulta o meu avanço ao encontro da luzinha no horizonte.
Mas o vento da esperança impele-me para a frente, sempre com os olhos secos e fixos no caminho que me levará até ao meu porto. Até lá fica essa fome surda, obscura, esta sensação de me faltar qualquer coisa, essa saudade de beijos e carícias, de amor derramado sobre mim, da plenitude de amar e ser amada. Fica a lembrança de pés descalços caminhando à beira-mar, beijados pelas ondas calmas e lânguidas. Fica a esperança no futuro risonho que me espera para lá do horizonte. Fico eu, lutando...

segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

"Ele ajuda-me..."

Um debate muito habitual actualmente e muito abordado nas nossas aulas de orientação é a carreira das mulheres. Foi um passo fantástico esse da independência da mulher, largar as saias e a relação exclusiva com as esfregonas e os panos do pó, ter o nosso sustento e a nossa independência económica. Acredito que tenha sido um alívio enorme! A opressão da sociedade e do marido diluiu-se um pouco e finalmente começaram a dar às mulheres o seu devido valor.
MAS não há bela sem senão! E agora somos nós, mulheres, que temos trabalho a dobrar. Fazemos tudo o que fazíamos antes – cuidar dos filhos, cozinhar, fazer a lide doméstica – e ainda trabalhamos fora de casa tantas horas quanto os homens. Uma vida nada fácil! Tudo isto porque nem tudo avança ao mesmo tempo e, enquanto as mulheres passaram a trabalhar e a trazer um segundo ordenado para casa, os homens continuaram única e exclusivamente a trabalhar, chegar a casa e sentar no sofá à espera do jantar pronto e da roupa lavada. E parece que é uma sorte quando a mulher pode dizer “ele ajuda-me...”!
Felizmente as coisas já vão mudando, devagar devagarinho porque não é fácil largar os maus hábitos e sacudir as expectativas sociais. Alguns homens ajudam (apesar de não bastar ajudar), uns mais do que outros, e já vemos umas aves menos raras que gostam de cozinhar, cuidam dos filhos mesmo quando não é para jogar playstation com eles ou ajudar a mexer no computador, fazem as compras de boa vontade... Qualquer dia ainda hei-de ver os homens a varrer o chão e pôr aquele bicho chamado máquina de lavar roupa a funcionar (e espero que seja o meu marido!), ou até a dizer “vai lá ver um bocadinho de televisão que eu passo a roupa a ferro”.
Acredito que é um sonho muito alto mas afinal já lá vai o tempo em que a mulher é que entendia desses assuntos. Cabe-nos a nós mostrar aos nossos pais, incentivar os nossos maridos e ensinar aos nossos filhos que eles também têm responsabilidades domésticas, que se sabem trabalhar com o computador e conduzir um carro também devem saber ligar a máquina da roupa e funcionar com um aspirador e que o trabalho é para ser dividido – e não resguardarem-se num “eu até ajudo” ou “não sei fazer”. E este sonho só depende de nós!

domingo, 12 de dezembro de 2004

Última semana de aulas

Começa agora a maratona da última semana de aulas! Agora... quer dizer, assim que sair daqui e finalmente combater a procrastinação que tem tomado conta de mim durante todo o dia. São demasiados distractores: bons filmes na televisão, bons blogs para espreitar (apesar de muita gente insistir em não escrever há muito tempo...), tanta coisa para fazer quando se tem o portátil no colo...
Mas tenho mesmo de me atirar ao trabalho! Uma montanha de fotocópias espera impacientemente as minhas leituras e sublinhados, tarefas que são para ontem (melhor, para anteontem!). Há um trabalho para acabar, um convívio para organizar, muitas prendinhas para comprar e como os dias só têm 24h convém começar rapidamente senão vou andar afogada em coisas para fazer nos últimos dias, a correr de um lado para o outro no pânico de última hora... como já é costume!
E pergunto a mim mesma: porque tem de ser sempre assim? Porque temos sempre de deixar tudo para depois e acabar por fazê-lo quando já não houver maneira de adiar mais e em cima do joelho? Quando vamos ganhar juízo, adiantar em vez de adiar, fazer "porque pode ser" e não "quando puder ser"?...
Mas, enquanto não tomarmos juízo, deixamos de ter vida própria nestes dias. É o castigo da vida relaxada que vamos levando até aí! E merecemo-lo...

sábado, 11 de dezembro de 2004

Coisas que nos tocam

Hoje tomei a decisão de esperar pelo autocarro, apesar de faltarem 20 minutos. Talvez há uns anos metesse pernas ao caminho mesmo sem reflectir, mesmo sabendo que levaria tanto tempo a chegar a casa que não compensaria o esforço. Talvez tenha crescido e ficado mais ponderada, menos impaciente de esperar, menos presa à necessidade de acção. E ainda bem que assim foi, porque pude presenciar uma cena que me enterneceu.
Estava na paragem um casal de idosos, muito simpáticos e com imenso sentido de humor, que entraram à minha frente no autocarro. O senhor sentou-se num dos lugares reservados, sendo logo advertido pela esposa: “Não te sentes aí, esses são os lugares das mães.” E eu fiquei encantada com aquele gesto... É incrível como as pessoas que legitimamente têm direito aos lugares reservados são as primeiras a preocuparem-se com os outros mais necessitados, as “grávidas e mães com crianças ao colo”, como disse a senhora, e os deficientes. Às vezes até temos de insistir com as pessoas para se sentarem, porque os que mais precisam são aqueles que têm mais receio de incomodar os outros passageiros.
E esta atitude ganha uma nova dimensão aos meus olhos, uma sobrevalorização ainda maior porque todos os dias vejo as pessoas sentarem-se indiscriminadamente nos lugares reservados, enquanto observo a luta de uma senhora a tentar arranjar modo de viajar sem acidentes com um bebé ao colo e respectivo saco, de pé no meio do metro. Custa-me ver estas situações evitáveis, custa-me até saber que tem de haver lugares reservados para uma atitude que deveríamos ter sempre, que é respeitar os mais necessitados. Mas pelo menos posso ter de vez em quando o prazer de me deparar com a preocupação e o respeito de algumas boas almas...

"Recomeçamos. Não nos rendemos."

Travei conhecimento com o livro que escolhi (por motivos de ordem prática) para a minha viagem Odivelas-Almada-Odivelas numa aula de Filosofia do 11º ano. Não me perguntem qual a temática da aula, porque não me lembro, mas o trabalho prático proposto pela professora tinha como fonte um excerto de A morte de um apicultor, de Lars Gustafsson, um autor sueco muito conhecido em terras escandinavas mas pouco divulgado neste canto da Europa. Gostei do tema – o amor –, gostei das questões filosóficas que levantava e fiquei com vontade de o ler.
E li... Descobri que este livro existia cá por casa e tornou-se para mim de leitura obrigatória. De vez em quando volto a estas páginas, não só para me deliciar com a bela forma de escrever que este autor nos oferece mas também para reflectir acerca das temáticas com que uma pessoa que está a morrer se depara, a retrospectiva da vida, a natureza, a sociedade, sempre com um “recomeçamos, não nos rendemos” de fundo.
Recomendo-vos vivamente que leiam, principalmente nós, estudantes de Psicologia, a quem nos interessam tanto estas questões mais metafísicas, e deixo-vos aqui com um excerto do excerto que me deu a conhecer o livro e com outras frases soltas que me fazem pensar... bastante!

“Quando amamos alguém, ou melhor, nos apaixonamos por alguém, por que é que nos apaixonamos verdadeiramente? É uma ideia da pessoa amada, ou é a pessoa propriamente? Talvez só sejamos capazes de viver com as nossas ideias. Talvez sejam sempre as nossas ideias que amamos.”

“Aconteceu, simplesmente, que eu tive uma experiência totalmente nova, totalmente inesperada: o amor. Foi, evidentemente, catastrófico, e eu soube desde o princípio que iria ser assim. Mas não havia catástrofe que me assustasse. Quando penso na maneira como agi, parece de facto que estive sempre a desejar uma catástrofe.”

“Quando o subconsciente é abandonado a si próprio por um momento, ele começa, muito simplesmente, a tecer uma trama. Cria uma identidade para si próprio, adapta-se ao meio e produz diligentemente novas formas de preencher o súbito vácuo que se cria quando esquecemos a realidade imediata. Parece não haver nada de que o subconsciente tenha tanto medo como a sensação de não ser ninguém.”

“O vento amainou. A tempestade passou. Já não sopra o vento. Ou talvez eu tenha aprendido a deslocar-me à velocidade do vento e por isso já não o sinta.”

“Se esta carta contém a minha morte, recuso-a. Não devemos querer nada com a morte.”

Espero que vos aguce o apetite para esta leitura e para este repensar da vida. E eu volto, mais tarde, quando acabar de ler o livro, com mais excertos interessantes.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2004

Espírito natalício

Já cheira a Natal! O frio que está lá fora dá vontade de acender a lareira e enrolar-me num cobertor quentinho. E a partir de hoje posso fazê-lo a olhar para a minha árvore de Natal e para o meu anjinho no topo do televisor.
Para não quebrar a tradição, hoje fomos desenterrar os caixotes de enfeites natalícios do fundo da arrecadação, onde estiveram a acumular pó durante 11 meses. Ao som de música alusiva à época, enchemos o pinheiro (artificial, para não massacrar a natureza) de luzes e brilho e salpicámos a sala de cor e sorrisos.
Agora, com as músicas na cabeça, só consigo pensar em presentes, risos, correrias pela casa, espreitar os embrulhos debaixo da árvore, roubar uma filhó acabada de fritar, sentir o cheiro da boa comida pela casa, beijar toda a gente e dizer ao mundo que me sinto feliz! Porque esta época faz-me sentir de novo criança, esquecer as mágoas e preocupações e alimentar a alma com a partilha, o amor e a alegria de viver e conviver que o Natal significa para mim.
E é por isso que não consigo parar de cantar e sorrir!...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2004

Manter-me à superfície...

A minha capacidade de envolvimento é uma característica muito minha... Virtude ou defeito, não sei, é complicado avaliar: às vezes é uma benção ser assim; outras, a minha cruz.
Esta é a minha maneira de viver! Apaixono-me arrebatadoramente, tenho as amizades bem enraizadas no meu coração, entrego-me a cada tarefa com fervor... Tudo o que faço tem de ser bem feito e explorado até ao limite, buscando até ao núcleo do meu ser toda a dedicação e entrega que tenho em mim. As tarefas que tomo em mãos torno-as minhas e faço sempre a aposta mais alta...
Tudo isto parece muito bonito, mas às vezes a sorte é madrasta e perco tudo o que apostei. Algo que não corre bem é para mim como uma punhalada e eu esvaio-me em desilusão. Ao entregar-me esgoto-me, ao tornar tudo carregado de significado crio um potencial de frustração demasiado grande para suportar em situações negativas. E eu afogo-me nessa profundidade que envolve tudo em que toco...
Às vezes, quando a ferida ainda dói, prometo a mim mesma manter-me à superfície das coisas. Mas, no compasso de espera entre esta promessa e o próximo projecto, amizade ou paixão, sinto-me oca, desprovida da minha essência. E é assim que volto sempre a mergulhar nessa profundidade... Posso sempre magoar-me mas prefiro muito mais viver a minha vida com sentido! E, afinal, o Sol erguer-se-á sempre de novo na manhã seguinte!

domingo, 5 de dezembro de 2004

Já nas bancas!

Informo todos os cusquinhos que o nosso jornal já está impresso e pronto a ser comercializado. O Olho do Cu(squinho) traz-nos, mais uma vez, 16 páginas de puro entretenimento, com muitos risos e surpresas à mistura. O destaque? Erasmus, obviamente. Porque é impossível esquecer esses amigos tão longe de nós, sempre aninhados nos nossos corações...
É só comprá-lo e... BOAS LEITURAS!

sábado, 4 de dezembro de 2004

Partir

Hoje cheguei cedo a casa! Mas cheguei com aquela sensação incómoda de ter deixado algo por metade...
O jantar-surpresa do Francisco começou bastante tarde e eu tinha de vir embora cedo. Quando saí do restaurante, havia ainda gente à espera de ser servida. Foi uma sensação muito estranha, parecia que algo me puxava para o meu lugar, me travava o movimento... Talvez por isso tenha levado tempo a despedir-me, como que a tomar coragem; talvez por isso tenha virado costas rapidamente e afastado no meu passo rápido, sem olhar para trás, como quem tomou a decisão e não pode deixar que nada a mude.
Assim sou eu ao partir... relutante, sempre esperando que me digam “não vás”, sempre a adiar o inadiável. Há momentos que não quero perder ou que não quero que acabem, há uma urgência em mim em absorver cada experiência até ao meu limite. Mas há também um mundo à minha volta, que me dita as regras da minha possibilidade de absorção: os compromissos, os horários, a família, os outros... E é nesse equilíbrio que me tento manter, quando respiro fundo e tomo coragem, quando afrouxo o abraço de despedida, quando deixo de lutar mentalmente contra o avanço do carro ou do passo. E o inevitável acontece! Tenho de partir, o tempo está esgotado. E parto, depressa e sem olhar para trás para não dar espaço a mudanças de ideias, levando apenas comigo a certeza de que queria ficar e as recordações...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2004

Enguiços

Enguiço s. m. quebranto; mau-olhado; mau agouro...
Enguiçar v. tr. causar enguiço a; deitar mau-olhado a; transtornar o bom andamento de...
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Relaxem! Não me vou meter por esses caminhos obscuros do esoterismo... É só uma expressão que assenta que nem uma luva no nosso belo trabalho de Antropologia. Este trabalho está enguiçado! Não vou culpar o mau olhado nem utilizar mezinhas para tirar o quebranto, mas não há melhor palavra para descrever a carga de trabalhos que temos tido por causa de uma mísera apresentação de uma ainda mais mísera cadeira optativa. Eu só sei que já conseguimos marcar 4 datas/horas diferentes e ainda andamos com os slides anotados na mão à espera de oportunidade para mostrarmos o quanto sabemos (ou não!) acerca dos Trobriandeses. Se querem saber mais, esperem-nos... um dia havemos de conseguir andar com isto para a frente! Um dia...

Esquecida

Aqui vai mais uma razão para detestar tempo de chuva: não basta andar um dia inteiro a arrastar o chapéu atrás de mim sem cair uma única gota, ainda tenho de esquecer-me dele na faculdade e começar a chover mesmo naquela altura em que saio do autocarro e percorro o caminho até casa... sem chapéu! Está bem, sou um bocado cabeça-de-vento, especialmente com chapéus, mas digam lá se não é irónico...

quarta-feira, 1 de dezembro de 2004

Parêntesis a "Chuva"

Não fiquem a pensar que gosto de chuva. Eu detesto chuva! Detesto este tempo triste que deprime, as poças que não consigo evitar, a sensação permanente de humidade, andar sempre de chapéu atrás, enfrentar a chuva nos dias de escola e ficar confinada a casa ao fim-de-semana. Não é propriamente o meu tempo de eleição mas, nos dias em que tenho o prazer de estar com os meus amigos, porque não ver as coisas pelo lado positivo?

Chuva

Chegou o Inverno triste e choroso, este ano mais tarde do que o habitual! O Tempo está de cenho carregado, coberto de nuvens negras e tenebrosas, e as suas lágrimas ensopam a terra e inundam o mundo. E estes dias de luz artificial, pés encharcados e roupa húmida fazem-nos desejar o conforto da casa e o calor de uma lareira!
E é nestas alturas que eu penso em teorias da conspiração. Parece que o Senhor Tempo anda zangado e sempre pronto a gorar os planos dos comuns mortais. Basta dizer “vou tomar um café à rua” e desaba imediatamente uma carga de água.
E eu, particularmente, tenho a sina do Bairro Alto. Não vou lá muitas vezes, mas é certinho como o Destino que no dia em que me lembro de acompanhar os meus amigos nas ruas estreitinhas e bares pequeninos desse bairro lisboeta alguém lá por cima decide abrir as torneiras.
Ontem apanhámos uma bela molha ao lutarmos por um jantar às 11h da noite... Quatro pessoas enfiadas debaixo de um só chapéu de chuva (e muita sorte tivemos nós de ser grande o suficiente para que todos pudéssemos chegar menos molhados do que o esperado), a subir e descer ruas de calçada escorregadia, agarrados uns aos outros para não cairmos, foi uma bela ocasião para chegarmos com mais 2 Kg de água no corpo ao restaurante. E é quase desnecessário dizer que foi a parte da noite em que choveu mais... Esta nossa aventura de ontem fez-me lembrar a última vez que tinha posto os pés naquela parte da cidade. Estávamos em Maio, a comemorar o aniversário da Ana Elisa. E, imaginem, choveu! E bem... Digam lá se não é mesmo sina minha?
É realmente uma chatice andar à chuva e não conseguir pôr um pé na rua sem ficarmos logo molhados. Mas pelo menos fica sempre qualquer coisa para recordar: as figuras que fazemos apertados debaixo de um chapéu, as risotas que a situação ridícula em que nos encontramos gera, as desistências de uns que deixam os outros a apanhar chuva no meio da rua, os chapéus de chuva que servem de bengaleiros e suportes para as mãos, as “boleias” até ao outro lado da rua... enfim, um conjunto de situações caricatas que apimentam ainda mais as nossas sempre risonhas saídas!