O espelho de Narciso

terça-feira, 30 de novembro de 2004

O molde com que criamos a vida

Quis olhar e compreender... Compreender como nasce o Sol, que não nasce como eu nasci; compreender como cresce uma flor, que cresce de forma diferente à minha; compreender como morre uma árvore, que não morre como eu vou morrer; compreender como são os outros seres, que são como eu mas que pensam, sentem e vivem de modo diverso aos meus sentir, pensar e viver.
Porque não compreendo então? Porque só posso avaliar o que vejo pelo que sei, que é como eu nasci, como cresço, como vou morrer e como penso, sinto e vivo. Olho para mim e uso-me como metro para medir o mundo à minha volta. Erro, porque eu não sou uma medida, porque ninguém é comparável a mim ou a qualquer outro. Surpreendo-me, porque medi errado e encontro o que não espero. E finalmente percebo que o molde com que criei a vida à minha volta está velho e quebrado, eu não sou um metro e cada um de nós é só um, único e incomparável.
E é assim que olho e compreendo... compreendo que a riqueza da vida está em quebrar o molde velho e descobrir realidades surpreendentemente diferentes de nós!

Expectativas: as pessoas

Tal como tudo na vida, também as pessoas não saem incólumes desse nosso processo mental fascinante que são as expectativas. Boas ou más, confirmadas ou refutadas, agradáveis surpresas ou terríveis desilusões, não importa. O facto é que elas existem e condicionam as nossas relações do modo que as deixarmos condicionar.
Como se criam? Não sei. Só sei que geralmente acabo por chegar à conclusão que as expectativas que crio quase nunca se confirmam. E estas decorrem das imagens que criamos no nosso íntimo das pessoas com quem nos relacionamos.
Tal como nos filmes, planos e vidas, quanto maior é o voo maior é a queda, mas estar lá em cima é que nos proporciona a melhor vista e mais ampla. Escolher a grandeza não é só sonhar alto, é ter coragem de arriscar, de suar e de vencer. E é isso que nos torna mais fortes e realizados!

Expectativas: as coisas

Expectativa s. f. esperança fundada em promessas ou probabilidades; expectação.
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Ontem ouvi um comentário muito habitual acerca deste sentimento: "estou com tantas expectativas que...". Todos nós já proferimos pelo menos uma vez na vida esta frase tão cheia de reticências mas tão clara, afinal.
Aquele que nunca se sentiu atraiçoado pelas expectativas que atire a primeira pedra. Nem que seja na experiência mais vulgar à face da Terra, cada um de nós já se deparou com um amontoado de ideias pré-concebidas que nos deixam um amargo na boca quando a realidade não preenche os requisitos da nossa imaginação. Acontece frequentemente com cinema e teatro (nunca me hei-de esquecer a reacção da minha mãe e dos meus "vizinhos de cadeira de cinema" no final de A Vila, com tanta expectativa que se formou acerca dos filmes de M. Night Shyamalan), acontece algumas vezes com planos – trabalho, lazer, férias – e acontece de vez em quando com os nossos projectos de vida. Os "castelos no ar" levam tempo a construir e é insuportável vê-los ruir ao mais pequeno sopro da vida.
Acerca deste tema interessante, existe uma teoria interessante. Tenho um amigo de insuspeitas tendências estóicas que defende que devemos exigir e esperar pouco da vida pois seremos mais felizes. Ou seja, o plano perfeito para contornar a carga de sofrimento que as expectativas podem trazer. Só que eu não concordo com isto. Respeito, mas não concordo. Porque sei que é duro sonhar e sofrer, mas a felicidade mais saboreada é aquela alcançada com esforço. Metas exigentes, desde que alcançáveis, criam expectativas mas também motivação para lutar contra as adversidades. Vale a pena o esforço! Vale a pena expectar, para se alcançar...

domingo, 28 de novembro de 2004

What a wonderful world

I see trees of green, red roses too
I see them bloom for me and you
And I think to myself what a wonderful world


I see skies of blue and clouds of white
The bright blessed day, the dark sacred night
And I think to myself what a wonderful world


The colours of the rainbow so pretty in the sky
Are also on the faces of people going by
I see friends shaking hands saying "how do you do?"
They’re really saying I love you


I hear babies crying, I watch them grow
They’ll learn much more than you’ll never know
And I think to myself what a wonderful world


Sim, o mundo pode ser maravilhoso! E não custa assim tanto... Basta olhar em volta e reparar nas pequenas coisas que nos rodeiam. O céu pode ser tão belo, semeado de nuvens e iluminado pelo sol; sabe tão bem correr numa praia deserta ou rebolar na relva; uma criança a rir põe-nos mais bem-dispostos; estar com os amigos eleva-nos para lá das nossas preocupações.
Um sorriso pode iluminar uma vida! E só depende de nós olhar para o mundo e sorrir, extrair dele cada momento de felicidade e torná-lo nosso. Saborear cada momento, sem pensar nas preocupações mundanas, no trabalho que se acumula, nas horas perdidas da labuta citadina, nas dores da alma que todos nós temos. Libertarmo-nos desse fardo deixa o nosso coração solto para contemplar o mundo e alimentar a alma desses pequenos momentos de felicidade. E isso torna-nos mais fortes e mais tranquilos...
E eu olho para o mundo com um sorriso porque aprendi a extrair a minha força das coisas belas que me rodeiam. Já não olho para o chão enquanto caminho, saio de casa quando o tempo está bom e cada vez dou mais valor aos amigos que tenho e às coisas que fazemos juntos. E, acreditem, sabe tão bem sentir-me assim feliz!

quarta-feira, 24 de novembro de 2004

Um outro olhar...

Saldanha. 19 horas.
O bilhete já guardado na minha mala diz "Diários de Che Guevara". Sento-me numa vulgar cadeira de cinema, a rebentar de expectativas e de curiosidade. Os dez minutos de trailers parecem-me um compasso de espera quase insuportável e eu opto por olhar apenas. O meu pensamento está cheio de imagens, sons e comentários de algo que eu nunca vi e fervo de impaciência.
Mas eis que ele chega! E, durante as duas horas de projecção, eu não vi um filme... Vi uma imensidão de sentimentos, emoções, sonhos, ideais expressos em imagens, as mais belas imagens que presenciei nos últimos tempos. Senti-me envolvida em poesia, não a poesia dos livros e das palavras sonantes mas a poesia dos sentidos. Não vi só um filme, porque me levantei da cadeira muito mais rica do que ao ver uma banal fita de cinema. Rica em experiências pelas quais nunca passei mas que vivi como minhas, rica em sentimentos que não são meus mas que os sinto dentro de mim, como uma dádiva. E, principalmente, o filme despertou-me para uma outra realidade, tão longínqua mas tão igual ao nosso quotidiano, para outras vivências maiores que nós... Agora, aqui sentada, já não sei discernir o que vi, o que senti e o que pensei: é essa a magia deste filme, transportar-nos para fora de nós e transformar-nos cá por dentro.
Talvez outras pessoas, naquela mesma sala, naquele mesmo momento tenham sentido o que eu senti. Mas há algo que foi só meu, naquelas duas horas: a experiência de (tentar) compreender o que toca a alma dos outros! Estar ali levou-me mais perto de algumas pessoas, algumas até sem mesmo as conhecer. Pude descentrar-me de mim mesma e sentir, mais do que conhecer, como elas vivem, sonham e se entregam ao mundo.
Foi, mais do que um filme, uma experiência maravilhosa, um outro olhar...

segunda-feira, 22 de novembro de 2004

Porque há coisas tão valiosas na vida...

Deixem-me ficar assim neste lânguido viver, com o coração quente e transbordante de amizade, com o olhar brilhando de orgulho, com uma vontade enorme de abraçar o mundo...
Deixem-me ficar enrolada no quente cobertor da felicidade, no conforto de um colo, no meu recanto...
Deixem-me apreciar a doçura de um beijo, a ternura de um abraço, o significado de um amigo...
E deixem-me sonhar!
20 de Novembro de 2004

domingo, 21 de novembro de 2004

A Teoria da Vaidade

Chegou a altura de vos esclarecer acerca deste invulgar nome de blog.
Tudo começa pelo provérbio adaptado "diz-me que blog tens, dir-te-ei que tipo de vaidoso és", que constitui o fundamento da Teoria da Vaidade (Costa, 2004). Mas, deixando-me de graças científicas, passemos aos factos. Para mim, a escrita é um acto de vaidade, pois pressupõe que estamos conscientes que a nossa habilidade para escrever e as nossas opiniões são, no mínimo, interessantes. Daí o paralelismo a Narciso… E escrever um blog, ou seja, escrever na rede global que é a Word Wide Web, onde há 6 mil milhões de potenciais leitores, seria o nível supremo da vaidade.
Mas o contacto com os blogs dos meus amigos, tão conhecidos de todos, fizeram mudar a minha maneira de ver as coisas. É uma benção para mim, leitora, que esta vontade de escrever e de partilhar as nossas ideias com os outros se traduza num espaço que pretende divulgar o que vai no íntimo de cada um. Porque essa vontade se expressa em conhecimento, não só das outras pessoas mas de outros assuntos, outros pontos de vista. E permite que fiquemos maravilhados com o que de belo existe nos outros.
Quanto à minha teoria da vaidade, abandonada por falta de fundamentos, serviu pelo menos para alguma coisa: conduziu-me à descoberta de um mundo maravilhoso e à valorização da partilha. A todos os que escrevem, OBRIGADA por me mostrarem como pode ser belo esse dom que é a escrita!

O início

Fui atingida! A febre do blog entrou em mim e eu não consegui evitar...
Passo os dias inconscientemente a olhar para o mundo e a esbarrar com situações caricatas, a ser atingida por sentimentos que preciso de expressar, a encontrar momentos para partilhar com os outros e, assim, a pensar "que coisa tão gira para escrever... num blog!".
Por isso, aqui estou eu, uma entre muitos, a dar início ao meu próprio blog. Para partilhar tudo convosco, desde as minhas motivações bloguistas a momentos bons, maus, assim-assim, pensamentos, opiniões, resmunguices, parvoíces e lamechices.
Sejam BENVINDOS! Porque este blog é para vocês...