O espelho de Narciso

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

Tão doces

São tão doces as lágrimas de felicidade!...

Por trás dos gestos

Por trás dos teus gestos esconde-se um desconhecido que eu tão bem conheço. Camuflado pela tua indiferença existe um entusiasmo verdadeiro e tocante que te torna delicioso. Porque te cobres e escondes a tua faceta mais bela?
Levei muito tempo a tentar compreender qual é o teu verdadeiro eu. Via tantos “eus” diferentes em ti... Agora, depois destes anos, descobri-te: és um espelho e cada pessoa vê-te tal e qual é. E atrás dessas paredes espelhadas, onde só vemos o nosso mundo e nós mesmos como se fosses realmente igual a nós, estás tu!
Quando digo que conheço esse desconhecido que és, sei que talvez conheça apenas um pouco de ti, ou um pouco de mim reflectida em ti. Mas gostava que esse “tu” que eu conheço fosse o teu verdadeiro eu, nem que seja pelo facto de ser a faceta mais bela que conheço de ti...

terça-feira, 27 de setembro de 2005

Questão de atitude

Quem disse que não se podia aliar trabalho e prazer? É tudo uma questão de atitude!
Há duas semanas assisti a uma conferência da Associação Internacional de Orientação Escolar e Profissional (AIOSP), dedicada ao tema Carreiras e Contextos: Novos Desafios e Tarefas para a Orientação. Mais do que uma experiência, foi uma oportunidade de aprendizagem única e um momento de consolidação de conhecimentos muito importante. Ver e ouvir autores tão conhecidos a falar das suas próprias teorias, ir além delas e transportá-las para o mundo real teve um impacto extraordinário no meu modo de as apreender e avaliar.
E toda esta experiência deu-me um prazer indescritível! Para além de todas as situações caricatas, hilariantes ou emocionantes, a oportunidade de aprender e tomar parte activa na minha preparação para o futuro deu-me um grande impulso para apreciar a 100% a conferência. Afinal, também podemos aliar trabalho e prazer, se realmente for importante para nós e o encararmos como um modo diferente de nos construirmos.

Grandes clássicos e pequenos livros

Quem me conhece sabe que adoro ler. Como tal sei que não posso passar ao lado dos grandes clássicos e, por isso, de vez em quando escolho um. Em geral, deparo-me com temas bem diferentes dos livros contemporâneos, ancorados noutras épocas, extraídos de outro tipo de pensamento, mas com o mesmo substrato: a natureza humana.
Recentemente, li O Vermelho e o Negro, do sobejamente conhecido Stendhal. Seguindo a vida e as aspirações de um jovem camponês, retrata a vida em França, na província e em Paris, logo após o “reinado” de Napoleão. Nos casarões dos senhores influentes da terra e nos salões onde os nobres se mostram imperam a hipocrisia e a ambição. E o jovem camponês, aspirante ao sacerdócio, preceptor e secretário, vive obcecado pela riqueza e estatuto que gostaria de alcançar e enredado pelo seu orgulho. Com este enredo, Stendhal mostra-nos os sentimentos mais vis que o homem pode albergar.
Cansada de tanta malícia, voltei depois a livros lidos e relidos que têm um lugar especial no meu coração. Pequenos livros da literatura contemporânea, de autores conhecidos do público e que se tornaram rapidamente best sellers. Voltei a eles com a urgência de quem precisa de ser salvo. Precisava de libertar a alma de tanta hipocrisia, vaidade e ambição, precisava encontrar algo bom na essência humana que apagasse a imagem que Stendhal gravou em mim, e consegui-o – seguindo não só com os olhos mas também com o coração as linhas impressas que me contavam histórias belas e tocantes, repletas de sentimentos nobres.
Nesse instante reaprendi a beleza da condição humana, da busca da felicidade e dos sonhos. Foram esses pequenos livros, incomparavelmente diferentes dos grandes clássicos, que me fizeram reflectir e tornar-me uma pessoa melhor, mais tranquila e atenta à voz do coração...
Por isso os valorizo: não sou pessoa de desdenhar da literatura contemporânea só pela sua proliferação, mas também não renego as obras de outros tempos. Em todas as épocas se escreveram bons e maus livros e depende de nós, leitores, saber distingui-los. Como tal, considero importante ter uma experiência variada e na minha prateleira coexistem pacificamente livros de muitos estilos e épocas diferentes. E a todos eles dou igual importância, se são de facto bons livros. Até mesmo os que me deixam desencantada com a natureza humana porque sei que me mostram uma das faces da realidade. Porque todas as épocas são iguais, em todas elas encontramos bondade e maldade, modéstia e arrogância, sinceridade e hipocrisia, coração e cérebro. Mas felizmente agora temos mais consciência do lado bom e sensível que podemos e devemos desenvolver e maior liberdade e diversidade na escrita. E, no final, todos os livros falam da mesma personagem de duas faces que é o humano e mostram-nos os caminhos para os conhecer. E, com um livro, temos o mundo nas nossas mãos!

segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Um bom serão

Ontem passei um dos melhores serões dos últimos tempos, em família. Uma ideia brilhante da minha irmã reuniu-nos em volta do tabuleiro do Trivial Pursuit, sentados no chão ou em poufs. Num só gesto, conseguimos despegar os homens da frente da televisão e sossegar um pouco a minha irmã.
O resultado foi bombástico! Entre risos e conversas, batotices e trapalhadas com os peões, estivemos por momentos todos juntos. À volta da mesinha da sala houve de tudo: a escolha sistemática das casas laranja a comprovar a cultura do futebol, as respostas precipitadas que saiam erradas quando podiam sair certas com mais 5 segundos de reflexão, a evidente geografofobia e historiofobia, o esperto que não jogou mas levou o tempo todo a responder, ainda antes que os jogadores conseguissem articular palavra alguma e, finalmente, uma sorte inesperada que me fez calhar nos queijinhos todos com perguntas fáceis – e a falta de sorte característica a voltar no desafio final!
Enfim, foi um serão que reuniu cinco pessoas numa noite de convívio que, de tão agradável, passou a voar e relegou as horas de dormir e o cansaço para segundo plano. E, quando nos levantámos do chão, estávamos bastante perros mas felizes! Porque pudemos partilhar um momento descontraído com as pessoas que conhecemos tão bem, vê-las tal como são, com as suas forças e fraquezas, maneiras de ser e de viver, desde dos descontraídos à competitiva, da despassarada ao sabichão. E sair dali a pensar “porque não fazemos isto mais vezes?”, sentindo que naquela noite tínhamos sido, realmente, uma família unida e feliz. Dá vontade de deitar no lixo a televisão, o computador, a internet, a tecnologia, e deixar voltar os antigos serões iluminados a candeias de azeite, com leituras em voz alta, cantigas, bordados, jogatanas de dominó e conversas, não dá?

Consciência de mim

A esta altura, já devem estar todos a pensar: “Mas o que lhe deu afinal?” Nada mais simples: vontade de viver!
Esta época em geral é, para mim, uma das melhores do ano. As férias tiram-me o cansaço do corpo e renovam a vontade de ser útil e entregar-me com afinco às tarefas que forem postas na minha frente. Dou por mim no final do Verão a saborear com mais prazer o Sol e o descanso, numa despedida doce que sei que não tarda, e a apreciar mais, no reencontro, os bons momentos que passo com amigos tão diferentes. O sorriso não me larga e a energia transborda.
Este ano não é excepção e, para adicionar um pouco mais de condimento, o estágio e o 5º ano trouxeram-me a consciência de que este é o meu último ano de estudante, (já não tão) longe das responsabilidades da vida adulta. Essa consciência dá-me energia extra para aproveitar cada pequeno momento da minha vida privilegiada de estudante e para lutar com mais persistência pelo meu futuro profissional. E isso passa por valorizar os momentos que esta vida me oferece, correr atrás dos projectos que me fazem crescer, viver menos com os olhos cravados no futuro ou enredada nos “ses” do passado e mais compenetrada no presente, no que posso agarrar “aqui e agora” e torná-lo meu.
Quero aproveitar este impulso para ser mais, para me agigantar perante os desafios e problemas da vida em vez de me fazer pequenina e invisível. Quero agarrar a energia, a confiança, a iniciativa que esta época do ano e da minha vida me oferece e expandi-las, gravá-las na minha alma e torná-las duradouras. Não sei se serei bem sucedida mas quero tentar... por mim!

Mote

Voltei... E hoje o meu mote é um comentário provocador!
Eu sei que tenho andado fugida a este pequeno espaço. Empenhada nos últimos trabalhos do ano e absorvida pelo presente, tem sobrado pouco tempo para me sentar com calma e deixar fluir os pensamentos.
Tenho estado ausente mas não por falta de assunto... A minha vida anda recheada de experiências novas, diferentes, prazenteiras, ou de (re)descobertas de mim e do mundo. Esse burburinho à minha volta impele-me a viver ao invés de ver a vida passar, impede-me de sucumbir à necessidade de escrever, de me refugiar nas páginas em branco, de me esconder revelando-me, de substituir a vontade de fazer pela reflexão...
Mas agora estou de volta, cheia de novidades que quero partilhar, com uma enorme vontade de vos mostrar o mundo colorido que vejo agora! Aviso-vos desde já que uma tempestade se aproxima... Vai chover muito nestas bandas e há possibilidade de ventos cruzados. Tenham cuidado, afinal não é a primeira vez que uma tempestade destas se torna furacão. Aqui fica o alerta – não há fome que não dê em fartura! E depois não se queixem...

domingo, 11 de setembro de 2005

Poalha

Aproximo-me da janela, num gesto banal de todos os dias. Mas a surpresa rasga um sorriso nos meus lábios. Está a chover! É apenas uma poalha fina a cair-me de mansinho no meu rosto mas sabe bem, traz-me uma sensação que o meu corpo já tinha esquecido e que ansiava há muito tempo... E, tal como eu, sinto a terra sedenta a saborear essa doce sensação. O ar tornou-se subitamente mais limpo e leve e a terra quente exala um odor morno e reconfortante. E, na minha imaginação, o horizonte é como um quadro vermelho que se dilui em pinceladas de azul e de verde e o gotejar da chuva é o riso da Natureza.
Sabe tão bem ver chover, depois de tanto tormento!...

6 de Setembro de 2005

A primeira folha de Outono

Atravesso um mar de amarelo sob o calor abrasador do Alentejo quando uma folha seca bate no vidro. A primeira folha de Outono deixa-me antever dias mais frescos e a benção da chuva, apesar do calor e da paisagem que protagonizam um Verão que já vai longo. A terra estalada e sedenta conta a história desoladora de um ano sem Inverno chuvoso nem Primavera verdejante e o fogo que devora os hectares de vegetação parece rir e troçar no seu crepitar. Mas a primeira folha de Outono vem bailando numa brisa com odor a esperança...

4 de Setembro de 2005

sábado, 3 de setembro de 2005

Acordar

Hoje acordei com a vida toda à minha frente... Enquanto abria os olhos que sustinham uma última lágrima, o velho sorriso aflorava aos meus lábios. A luz coava-se pelas frestas dos estores e da porta, vincando os contornos dos móveis à minha volta e dando-me o impulso para saltar da cama porque afinal já era dia e o mundo esperava com um sol radioso o meu rosto sorridente à janela.
Hoje acordei com a vida toda à minha frente... Cheia de decisões, de planos, de uma força renovada. Com a consciência bem alerta e uma vontade férrea de andar para a frente, de olhos cravados no futuro. Hoje é como um primeiro dia, em que tudo é novo, fantástico e belo: o mundo está cheio de cores vibrantes, o calor do sol é um beijo terno, a brisa é uma carícia e os sorrisos que me envolvem são hospitaleiros. Hoje tenho um novo caminho para percorrer, cheio de surpresas e aventuras... Ainda não sei nada desse caminho mas quero saborear cada passo que nele der, quero realmente viver.
É bom acordar assim com a vida toda à minha frente! Algo que devia fazer mais vezes, para desempoeirar a alma... Porque, afinal, as águas que passaram já não movem moinhos e não me fazem crescer enquanto pessoa. E, nesta vida tão fugaz, não podemos dar-nos ao luxo de estagnar... O mundo avança inexoravelmente e só nos resta caminhar sempre sem olhar para trás, pensando somente que temos a vida toda à nossa frente!